[Resenha 157] A diaba e sua filha

em 9.2.17
Título: A diaba e sua filha
Autora: Marie NDiaye
Editora: Cosac Naify | 2011 | 40 páginas
Sinopse: A atmosfera noturna dá à história da autora franco-senegalesa Marie NDiaye um caráter sombrio e misterioso. O sincretismo de NDiaye ecoa em seu texto, mescla de metáforas dos contos de fada tradicionais e de elementos da literatura africana. No livro, uma diaba sai todas as noites da floresta à procura de sua filha que desapareceu misteriosamente, junto com a casa onde moravam. Foi quando a diaba percebeu também que seus delicados pés haviam se transformado em cascos de cabra – deformidade que causa repulsa nas pessoas. A ambiguidade da personagem – alegoria da noite –, de face graciosa, olhos doces, mas com cascos no lugar dos pés, suscita no leitor alguma hesitação e muitos questionamentos. Um livro enigmático que nos convida a refletir sobre como o afeto é capaz de humanizar até a aparentemente mais aterrorizante criatura e sobre a importância de se respeitar as diferenças, visíveis e invisíveis.

“NDiaye escreve sobre os nossos medos e o modo como eles são colectivamente construídos. Escreve sobre a necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e maus, em anjos e monstros.” (Mia Couto)

Resenha

– Alguém sabe onde está minha filha?

A diaba e sua filha me atraiu inicialmente pelo título, depois a sinopse cumpriu o objetivo e acabou por me incentivar a adquirir essa leitura. Até então não tive contato com a literatura africana, algo que pretendo mudar depois dessa bela experiência.

Com uma narrativa melancólica, somos apresentados a uma jovem que não se lembra quem foi ou onde mora. Ela apenas carrega uma certeza: é mãe de uma menina, de quem desconhece o paradeiro. Conforme anda pelas ruas, seus passos ecoam: clique-claque, clique-claque, clique-claque...

Ela não é capaz de dizer desde quando seus pés se tornaram parecidos com pequenos cascos de cabra, com uma acentuada fenda. No véu de suas lembranças sabe que nem sempre foi assim. Um dia, seus pés foram normais.

Ela bate de porta em porta e pergunta a quem lhe atende: 

– Onde está minha filha?

Seu rosto é belo, atraente... Mas quando as pessoas olham para seus pés, e encontram os cascos, rapidamente fecham a porta! Elas não dão ouvidos à voz sofrida de uma mãe que perdeu sua criança. Elas temem aquela diaba. Elas temem enfurecê-la e terem suas vidas roubadas.


Elas temem o desconhecido.

Por ser uma leitura de poucas páginas, não direi mais nada. Basta saber que é um enredo capaz de ser lido literal ou metaforicamente. De modo literal, nós o interpretaremos como um mito, uma fábula africana que pode ser apresentada às crianças como uma introdução ao gênero dark fantasy. De modo metafórico, no entanto, poderemos encontrar nas entrelinhas uma enorme riqueza de reflexões:

Os pés de cabra que todos rejeitam, hoje, podem ser o quê? 
(a raça, a orientação sexual, a ideologia política... qualquer diferença capaz de gerar preconceito)
De todos os personagens, por fim, quem mais demonstrou afeto? 
(a diaba, que procurava sua filha, ou o povo que a rejeitava?)
Por que os pés da diaba assustavam?
(por sua aparência, pela falta de informação)

O desfecho é maravilhoso. Imprevisto e agridoce de um jeito que atende a expectativa, mas mantém o enigmático que percorre toda a narrativa. É uma obra que vale a pena ler, contar e usar para abordar a necessidade de não estigmatizar o que podemos definir como maldade e bondade. Afinal...

Não são os cascos de cabra que tornam uma pessoa boa ou má.
São suas atitudes.

As ilustrações são maravilhosas, seguindo um estilo um pouco embaçado talvez para sugerir que não vemos direito a pessoa a quem previamente julgamos com nossos preconceitos. A edição é impecável (marca da Cosac Naify). Leitura recomendada.

Observação: pela editora ter encerrado suas atividades, recomendo adquirir rapidamente a obra através da Amazon (única loja virtual que está comercializando o estoque remanescente).

Avaliação:
Interessou-se pelo livro?
Skoob | Compre: Amazon 

Sobre a autora:
Marie NDiaye é uma escritora, roteirista e dramaturga senegalesa.
Filha de uma francesa e um senegalês, cresceu na periferia de Paris. Começou a escrever aos 12 anos, mas só em 1985 publicou seu primeiro livro, o romance Quant au riche avenir. Casada com o também escritor Jean-Yves Cendrey, escreveu com ele a peça teatral Toute vérité. É coautora do roteiro do filme Minha Terra África (White Material, 2010), dirigido por Claire Denis.
Venceu o Prêmio Goncourt de 2009 com seu romance Trois Femmes Puissantes. Também ganhou o Prêmio Femina em 2001, com Rosie Carpe.

O que acharam dessa resenha?
Adoraria saber se já leram ou pretendem ler A diaba e sua filha.
Trarei mais resenhas de literatura infantil e infantojuvenil, espero que apreciem!

26 comentários:

  1. Oiee, nossa realmente o título chama muito a atenção, fiquei curiosa sobre a mensagem passada pela obra, espero poder conhecer.

    bjs

    www.leituraentreamigas.com.br

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  2. Oi, Francine!
    Acho que já tinha visto livro em algum lugar pela internet, mas não tinha dado uma olhada.
    Gosto quando os livros trazem uma reflexão subtendida por trás da história.
    Gostei da premissa e da sua resenha, principalmente dos seus quotes de reflexão.
    Beijão!
    http://www.lagarota.com.br/
    http://www.asmeninasqueleemlivros.com/

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  3. Olá
    Eu ainda não tinha visto nenhum post relacionado a essa obra, mas pelo que li aqui na resenha me pareceu ser um ótimo livro. Apesar das poucas páginas que ele tem, mostrou ter uma história bem interessante e construída. Fico feliz que o final dói surpreendente. Sobre a capa, eu devo dizer que não curti muito rsrs. Enfim; espero ter a oportunidade de ler a obra algum dia. Até mais ver
    Bjs

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  4. Adoro novidades e leituras diferentes. Também nunca li nada de literatura africana e tenho um projeto de dar a volta ao mundo da literatura em 80 livros. Vou anotar sua dica!
    bjos
    www.causoseprosas.com.br

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  5. Olá... também fui traída pelo título. Nunca li nada de literatura africana, mas como vc disse das entrelinhas, eu fiquei com a pulga atrás da orelha, afinal, esses são os melhores livros. Não conhecia a autora mas não sei se tenho interesse me ler, apesar de tua boa resenha. abraços literários!

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  6. Oi Fran! Que cana sua indicação! Eu tb não tenho muito contato com a literatura Africana, mas o título realmente chama atenção. Fiquei bem curiosa!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Oi Fran, achei a história bem diferente de tudo o que li e fiquei curiosa com as ilustrações. Quanto a literatura africana, te recomendo Mia Couto, tenho certeza que irá adorar!!!
    MEU AMOR PELOS LIVROS
    Beijos

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  8. Oi, tudo bem?
    O título do livro chamou a minha atenção, mas quando li a sinopse não fiquei tão interessada. Acho que não tem muito a ver com o estilo de livros que eu gosto.
    Mas sobre as ilustrações e a edição, devem ser realmente incríveis, como todos os livros da Cosac.
    Não me interessei muito pelo livro, mas adorei a sua resenha e como você expressou suas impressões sobre o livro.
    Beijos!

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  9. Olá Fran!
    Amei a resenha e me interessei muito pelo livro. Adoro o trabalho com as metáforas algumas vezes, quando o livro nos coloca para pensar sobre algo além dele. =D
    Beijos!

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  10. Olá!

    Ainda não conhecia esse livro, mas o título é bem atrativo e pelo que pude acompanhar na sua resenha não só o título é chamativo, o enredo em si já é muito envolvente e nos faz refletir o tempo todo. Já tive contato com Literatura africana por meio da leitura do livro "Meio sol amarelo" da autora Chimamanda Ngozi Adichie. Vale a pena ler, viu? Super indico! Ótima resenha! Amei o livro e com certeza pretendo ler. Dica anotada.

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  11. Oii
    bem interessante que você esteja se aventurando por outras literaturas como a africana. Não sei se eu gostaria do livro, mas por ele ser bem curto, quem sabe eu ainda o leia, só para conhecer um pouco de outras literaturas também. =)

    Vícios e Literatura

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  12. Não conhecia o livro, mas se não tivesse lido sua resenha, passaria longe desse título, pois nem a capa nem a sinopse me chamaram atenção de verdade, mas você falou de uma forma que parece ser aquelas leituras que te ensine muitas coisas em poucas páginas.
    Espero poder conferir em breve!

    Virando Amor

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  13. Olá,

    Eu nunca li nada da literatura africana, mas já li A Marcha dos Javalis, um livro na qual os personagens têm o nome africano. Achei a premissa dessa obra bem interessante e fiquei feliz em saber que a leitura é agradável em poucas páginas.

    http://desencaixados.com/

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  14. Oi Francine!

    Tudo bem? Eu achei muito interessante que o livro com elementos da cultura africana e acho que exatamente por isso achei muito interessante. Também achei interessante saber que ele tem uma reviravolta surpreendente e que o final também não é previsível, adoro ser surpreendida por uma leitura e realmente valorizo isso

    Outra coisa que chamou muito a minha atenção na sua resenha e que de fato despertou a minha curiosidade foi saber que a história pode ser lida de maneira metafórica e literalmente, fiquei bastante intrigada por esse seu comentário.

    Beijinhos
    Jessie
    www.paraisoliterario.com

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  15. Mas gente... que livro diferente, diferente de tudo que já li e super inusitado não é?! Gostei muito e fiquei curiosa pra saber como que acontece o desfecho. E realmente, as pessoas tendem a ignorar o desconhecido, parece ser um ótimo ensinamento!

    c

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  16. Olá amore,
    Que título de livro um tanto sinistro rsrsrs. Mas a capa é uma graça, já leria, com certeza!
    No entanto ao ler sua resenha, vi que não sei se seria uma leitura pra esse momento de minha vida, ainda assim vou anotar a dica aqui pra no futuro eu ler.
    Beijokas!

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  17. Oi Francine, assim como você fiquei curiosa pelo título. Confesso que não li muitas obras com a cultura africana, e acredito que sempre aprendemos com literatura diferenciada. vou procurar saber mais sobre ele! Abraços

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  18. Oi, Fran!
    Não consegui ficar alheia ao clique que me deu ao ler tua resenha sem associá-la a obra "A pata da gazela".
    Fiquei extremamente interessada em ler "A diaba e sua filha".
    Conhecer outra cultura é excelente, então por que não conhecê-la através das suas obras literárias? Ótima escolha para mergulhar na cultura africana.
    Um abraço.

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  19. Oiii, eu não conhecia o livro, mas adorei. Não curto muito mitos e lendas, mas a parte metafórica e as reflexões que podemos tirar da obra encheram muito os meus olhos.
    A Cosac sempre trouxe obras maravilhosas e lindíssimas, sinônimo de qualidade, uma pena ter acabado :/



    ourbravenewblog.weebly.com
    Participe do nosso TOP COMENTARISTA valendo um livro JANTAR SECRETO, do autor Raphael Montes :)

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  20. Eu amo esses livros curtinhos, mas que nos fazem viajar por uma otima leitura. Não o conhecia ainda, mas o enredo e sua forma de se expressar na resenha, me deixaram bem curioso para com a obra. As ilustrações estão linda, eo livro acaba de entrar para minha meta.

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  21. Olá!
    Francine, você me deixou com uma pulga atrás da orelha com essa resenha sua. A capa também me chamou muito a atenção, mas ter deixado só um pouquinho da história me deixou ainda mais instigada a ler. Preciso encontrar este livro. (rsrs)
    Bjs.

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  22. Oie Frans
    Não conhecia esse livro e tenho que dizer que como vc nao tenho costume de ler livros da cultura africana. A história me pareceu bem interessante e me chamou a atenção ao seu modo, mas confesso que não sei se o leria no momento.

    beijos
    Livros & Tal

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  23. Que capa bonita e nome exótico! Não conhecia a obra nem a autora.

    Sabe que também não tive contato com literatura africana? Raras vezes vejo resenhas ou mesmo livros de autores africanos. Por sua descrição e reflexões, acredito que seja um livro riquíssimo em reflexões sobre a sociedade no geral e seus preconceitos medonhos do que não conhece. Ótima indicação, já o quero para minha estante!


    Abraços!
    www.asmeninasqueleemlivros.com

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  24. Ótima resenha!

    Beijos;
    Jesse Lira | www.jesselira.com.br

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  25. Oi, Fran! Tudo bem lindona??
    Bom, primeira vez que vejo sobre essa obra e como dito na resenha é algo para nos fazer pensar sobre o que nos faz ser maus. Interessante seu ponto de visto sobre o todo e a forma como o entendemos dentro de nosso contexto social.

    Beijokas e sinto tanta falta de escrever para meu blog novamente rrs

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