Resenha 79 | Mentirosos

Título: Mentirosos
Autora: E. Lockhart
Editora [parceira]: Seguinte (2014, 272 páginas)

Sinopse: Os Sinclair são uma família rica e renomada, que se recusa a admitir que está em decadência e se agarra a todo custo às tradições. Assim, todo ano o patriarca, suas três filhas e seus respectivos filhos passam as férias de verão em sua ilha particular. Cadence - neta primogênita e principal herdeira -, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat são inseparáveis desde pequenos, e juntos formam um grupo chamado Mentirosos.
Durante o verão de seus quinze anos, as férias idílicas de Cadence são interrompidas quando a garota sofre um estranho acidente. Ela passa os próximos dois anos em um período conturbado, com amnésia, depressão, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos. Toda a família a trata com extremo cuidado e se recusa a dar mais detalhes sobre o ocorrido… até que Cadence finalmente volta à ilha para juntar as lembranças do que realmente aconteceu.

Resenha

Quando comecei a leitura de Mentirosos, soube que seria um livro distinto. Cada página é uma peça de um quebra-cabeça emocionante, dramático e perturbador. Foi uma das minhas melhores leituras devido à narrativa impressionante e ao enredo envolvente.

[fonte]

Narrado em primeira pessoa, nesse livro conhecemos Cadence – ou Cady –, a neta mais velha da família Sinclair. Aristocrática e tradicional, a família Sinclair é reconhecida por sua beleza, seu status, sua classe e sua perfeição. A cada verão, o patriarca Harris Sinclair reúne suas três filhas e seus netos na sua ilha particular. É o único momento do ano em que Cady reencontra seus primos, Mirren e Johnny. Quando tinha 8 anos, Johnny passou a levar seu melhor amigo, Gat, para a ilha.

A história envolve esses quatro personagens, que têm quase a mesma idade: Cady, Mirren, Johnny e Gat – os Mentirosos. Cady adora cada momento que passam juntos, pois a honestidade que dedicam um ao outro é diferente da aparência fria que a família exige. Eles encontram conforto um no outro e, talvez, isso só seja possível por causa de Gat – o forasteiro, aquele que não é um Sinclair e questiona as tradições dessa família (im)perfeita.

– Quando falamos "Cala a boca, Gat", não é isso o que queremos dizer.
– Não?
– Significa que te amamos. Você nos lembra de que somos uns cretinos egoístas. Você não é um de nós, nesse sentido.
Ele baixou os olhos. Sorriu.
– É isso que você quer dizer, Cady?
– É – respondi a ele. Deixei meus dedos percorrerem seu braço, que boiava esticado.

Quando Cady tinha 15 anos chegou à ilha sentindo-se deprimida, porque seus pais se separaram. Sua avó havia falecido recentemente e Harris Sinclair, o patriarca, incentivava de modo sutil a competição entre suas três filhas pela sua atenção e herança. O clima familiar era tenso e, naquele ano, Cady sofreu um grave acidente na ilha.

Agora, Cady tem 17 anos e ainda está se recuperando. Ela não lembra do acidente e sofre de intensas enxaquecas. Quando finalmente retorna para a ilha, tudo está diferente. Sua família esconde segredos e os Mentirosos parecem, agora, mentir para ela. Tudo o que Cady deseja é descobrir por quê. Qual foi o acidente responsável por deixá-la tão frágil? Por que ninguém quer conversar com ela sobre isso? As lembranças que perdeu devido ao trauma parecem escorrer por entre os dedos, tal como a areia da ilha. E todos dizem que precisa lembrar sozinha. A cada pista que Cady encontra, a cada enigma desvendado, a angústia aumenta porque já não é possível manter sob a superfície o fato de que a família Sinclair está desmoronando.

– Você se livrou de todas as coisas do papai. Comprou um sofá novo, louça nova, joias novas.
– Cady.
– Não tem nada na casa inteira que diga que ele já morou com a gente, exceto eu. Por que você pode apagar meu pai e eu não posso...?
– Apagar você mesma? – minha mãe diz.

A melhor qualidade de Mentirosos é a narrativa impressionante da autora. Utilizando-se de metáforas sensíveis, frases curtas e alternando-se entre o passado e o presente, E. Lockhart é brilhante ao apresentar com beleza e uma crua sinceridade as facetas mais complexas dos seus personagens. Apesar da família Sinclair preocupar-se excessivamente com as aparências, há uma profundidade tocante... Cada palavra e gesto parece cheio de significados que gritam para serem notados. Os Mentirosos apenas ouviram esses gritos silenciosos e escolheram não ignorá-los. Um grupo de quatro adolescentes desejou mudar sua realidade – transformando-a em algo que jamais poderia ter imaginado.

Sou capaz de pensar que, em algum lugar, os Mentirosos existiram. Eram tão críveis em seus desejos e sonhos, tão palpáveis em seus sentimentos tumultuados, que posso acreditar serem reais. A maneira como a autora teceu o enredo e uniu cada pequeno detalhe torna esse livro imperdível! O desfecho me comoveu e, por mais que esperasse algo assim, foi muito aguardado por mim. Acho que Mentirosos é o tipo de livro que nos faz rever prioridades e valorizar aquilo que o dinheiro não pode comprar: o afeto sincero, a lealdade, a intimidade, o amor. É um livro sobre recomeços – sim, no plural, porque não há esperança maior do que crer que podemos, sempre, tentar de novo. 

É bom ser amada, mesmo que não dure.

A diagramação está impecável, assim como a revisão. A capa ilustra com clareza a ilha e os quatro Mentirosos. O título é muito adequado, mas acredito que não se refira a Cady, Mirren, Johnny e Gat. Eles eram, em meu ponto de vista, os únicos realmente sinceros. Talvez o título seja a primeira metáfora da autora sobre a família Sinclair. É um livro mais que recomendado para vocês!

*Agradeço o carinho da Editora Seguinte em me oferecer a cortesia dessa leitura.*

Avaliação:

 Compartilho os meus quotes favoritos:

É verdade que aguento terríveis enxaquecas desde o acidente.

É verdade que não aguento idiotas.

Gosto de distorcer significados. Percebe? Aguentar enxaquecas. Não aguentar idiotas. A palavra sinifica quase a mesma coisa nas duas frases, só que não.

Eu, Johnny, Mirren e Gat. Gat, Mirren, Johnny e eu.

A família se refere a nós quatro como os Mentirosos, e é provável que mereçamos. Temos quase a mesma idade, e todos fazemos aniversário no outono. Quase todos os anos causamos problemas na ilha.

Não estou falando de destino. Não acredito em destino, almas gêmeas ou sobrenatural. Só sei que entedíamos um ao outro. Completamente.

Não cause transtorno, ela disse. Não faça as pessoas se lembrarem da perda.

– Você entende, Cady? O silêncio é uma camada protetora sobre a dor.

Para os mais velhos da família – minha mãe, as tias, o vovô –, o acúmulo de belos objetos é uma meta de vida. Quem morrer com mais coisas ganha.

Ganha o quê? É o que eu gostaria de saber.

Parece sóbrio e aberto, mas não é modesto, porque tudo é opulento.

Meu avô é mais parecido com minha mãe do que comigo. Ele apagou a antiga vida gastando dinheiro em outra para substituí-la. 

– (...) Acho que uma citação inspiradora pode ajudar nos momentos difíceis.

– Como o quê? – pergunta Gat.

Mirren para. Depois diz:

– Seja um pouco mais gentil do que precisa ser.

Se você quiser viver em um lugar onde as pessoas não tenham medo de ratos, deve abrir mão de viver em palácios.

Minha mãe e suas irmãs eram dependentes de meu avô e seu dinheiro. Tiveram a melhor educação, inúmeras oportunidades, milhares de conexões, e ainda assim acabaram incapazes de se sustentar. Nenhuma delas fez nada útil no mundo. Nada necessário. Nada corajoso.

– Cresça, Cadence. Veja o mundo como ele é, não como você queria que fosse.

Olhei para ela. Minha mãe, adorável e alta, com lindos cachos e uma boca rígida e amarga. Suas veias nunca estavam abertas. Seu coração nunca saltava e caía, desprotegido, sobre o gramado. Ela nunca derretia e virava uma poça. Era normal. Sempre. A qualquer custo.

O
livro Mentirosos foi escolhido como melhor livro juvenil de 2014 no Goodreads! Mais de 33 mil leitores votaram no romance de E. Lockhart. Saiba mais sobre ele: www.seguinte.com.br/mentirosos.

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