Resenha 60 | Eve & Adam

Título: Eve & Adam
Autores: Michael Grant e Katherine Applegate
Editora [parceira]: Novo Conceito (2014, 272 páginas)

Sinopse: Filha única da poderosa e fria geneticista Terra Spiker, Eve fica entre a vida e a morte depois de sofrer um acidente de carro. O processo de cura no misterioso laboratório Spiker transcorre com uma rapidez impressionante, o que desperta a curiosidade da menina. Antes que Eve estreite os laços com Solo, um rapaz que compartilha segredos com a corporação, a Dra. Spiker lhe propõe um desafio: Eve terá a chance de testar, em primeira mão, um software desenvolvido para manipular gens humanos. Ela poderá criar um namorado sob medida! Mas brincar de Deus tem consequências, e agora Eve vai descobrir até que ponto existe perfeição.

Resenha

Estava ansiosa para ler esse livro e, também, para trazer a minha opinião a vocês! Desde que vi sua capa e li sua sinopse, me encantei. Gosto de ficção científica e uni-la ao gênero romance é um convite imperdível para mim (rs).

Eve & Adam é um livro do qual gostei muito! A narrativa é em primeira pessoa, intercalando entre os personagens Eve e Solo, em capítulos curtos e de rápida leitura – há um momento, porém, que um terceiro personagem começa a narrar e surpreende! Logo na primeira página, somos impactados com um grave acidente… Eve Spiker é atropelada e tudo o que consegue ver de si mesma é sua perna decepada junto ao próprio sangue. Às pressas, é levada ao hospital, mas acaba sendo surpreendida com a decisão de sua mãe, Terra Spiker, de transferi-la para os laboratórios da família.

Terra é uma mulher destemida e autoritária, capaz de provocar ansiedade em qualquer pessoa à sua volta – por isso é conhecida vulgarmente como Terror Spiker. Desde a morte do esposo (pai de Eve), Terra controla os laboratórios Spiker com mão de ferro. Os laboratórios Spiker são reconhecidos internacionalmente por suas pesquisas em nanotecnologia e genética, oferecendo vacinas para as doenças mais sofríveis da humanidade e menos interessantes para as indústrias farmacêuticas. Vemos, então, que os laboratórios Spiker têm uma função social admirável, ajudando doentes na África e outros países pobres – onde o lucro não seria seu principal objetivo.

Apesar disso, parece que não há somente atividades das quais se pode orgulhar nos laboratórios Spiker. Então, conhecemos Solo, o filho de um casal de cientistas que trabalhava para Terra antes de morrer. Por isso, Terra se tornou sua tutora, mas a relação deles é apenas formal. Solo vive nos laboratórios Spiker, onde ajuda com pequenos afazeres. Ele é o cara do café ou dos recados. Anda de um lado ao outro obedecendo as ordens mais simples de cada cientista arrogante. Foi assim que ele descobriu algo terrível entre as paredes dos laboratórios Spiker… E foi assim que ele se envolveu com Eve.

Tédio… Eve estava se recuperando do acidente, mas sentia tédio. Paralelamente à vida de Solo, acompanhamos Eve testar um software incrível! Ela deveria criar um ser humano virtual. Mas não era como um jogo simples, apenas estético. Ela precisava manipular diretamente no DNA cada característica física e psicológica da sua criação. Brincando e passando o tempo, Eve cria Adam. Ela só não esperava estar participando de algo muito maior e tenebroso, diretamente relacionado às descobertas de Solo.

– Estou cuidando do cérebro – digo distraidamente.

– Por quê?

– Faz parte da simulação – respondo. – (...) Estou tentando decidir se devo fazê-lo muito inteligente ou só esperto.

Aisling pensa por um momento.

– Pode fazê-lo gentil? (p. 134)

A narrativa dos autores de Eve & Adam é um dos pontos altos do livro. Não há descrições ou detalhes desnecessários, de modo que ocorrem muitos acontecimentos em poucas páginas. O ritmo da leitura é ágil, porque ficamos curiosos com o que Solo descobriu e, também, com a criação de Adam! É uma ficção que nos faz refletir sobre a bioética e quão longe a ciência deve ir… Eu gostei disso. Há uma profundidade no livro que mantém a leveza simplesmente porque os autores foram felizes em incluir humor em vários momentos.

Imaginei a história como um filme! Seria maravilhoso assistir a uma adaptação. Quero destacar a personagem coadjuvante Aisling, que era a melhor amiga de Eve. Ambas eram tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão necessárias uma à outra, que me vi sorrindo com essa amizade. Terra Spiker se tornou uma das mulheres mais poderosas (e fodonas) da literatura para mim. A mulher é uma fortaleza! Solo também me cativou pela fidelidade aos seus valores pessoais. Não é algo que posso dizer sobre qualquer personagem… (rs).

Embora tenha sentido falta de melhor desenvolvimento em algumas cenas – o mal de uma narrativa tão objetiva –, considero Eve & Adam um excelente livro devido ao seu conteúdo e mensagem. Penso, inclusive, que pode ser utilizado junto a estudantes do Ensino Médio para problematizar alguns temas importantes. Deixo a dica da leitura desse livro para pais e educadores, mas o acho muito recomendável para qualquer leitor!

– Por que você me contou se minha mãe pediu para não contar?

– Não sou uma máquina, Evening. Sou um homem. E você me fez livre. Você fez isso, não?

– Sim, sim. – Eu o fiz para ser livre? Não tenho responsabilidade nisso. Sim, eu o fiz para ser livre. E me pergunto o que mais eu fiz. (p. 213)

A diagramação está maravilhosa, assim como a revisão. A capa é realmente linda, gente! A Novo Conceito está de parabéns por nos trazer um livro como esse.

*Agradeço o carinho da Editora Novo Conceito pela cortesia desse exemplar!*

Avaliação:

Compartilho os meus quotes favoritos: 

Ele olha para a minha perna, e então para o meu peito. Não sei bem se está olhando para o meu braço achatado ou para meus seios (também achatados), mas, de qualquer forma, não estou adequadamente vestida. (p. 31)

Estou recebendo uma massagem de Luna, a massoterapeuta.

Luna não toca Na Perna.

Na minha cabeça, A Perna tem letra maiúscula porque minha vida parece girar ao redor Da Perna agora. Todas as pessoas que encontrei nos últimos dias me perguntam sobre A Perna.

Como está?

Como está A Perna? (p. 39)

Quando você está no ensino médio, analisando os garotos, e você descarta todos aqueles que procuram a garota perfeita, todos os infantis, bobos, chatos, malvados ou obcecados por sexo, não sobra muita coisa. (p. 51)

Não existe maneira melhor de descobrir o que está rolando do que ser um peão que todo mundo ignora. Se você é o cara do café, todos acham que você não entende nada do que aparece nas telas dos computadores, nos projetores holográficos e até nas pranchetas antigas. (p. 69)

O que toma conta de uma pessoa e a convence a se autodestruir? Seria a vida desinteressante? (p. 98)

Ele olha para mim como se estivesse esperando algo. Eu tenho a impressão repentina e bizarra que ele pode estar pensando em me beijar.

– Nem pense – eu digo. – Eu não me tornei vulnerável a seu charme.

Ele ergue as sobrancelhas.

– Ah, você achou que eu ia agarrar você?

– Não... – começo a dizer, me retraindo.

– Pare de projetar seus sentimentos em mim – Solo diz.

É um fora incrivelmente bem dado. (p. 99-100)

Ele olha para o que fiz até agora – íris e mãos.

– Por que começaria com mãos e olhos?

Respiro fundo. A verdade é que não passei muito tempo pensando no "porquê". Mas não quero admitir. Esse cara está me irritando. Tirando as tatuagens, ele é bem como os outros cientistas da Spiker que conheci: arrogante e apaixonado pelo próprio Q.I.

Então, eu digo:

– Porque os deuses querem ser vistos, e eles querem ser servidos.

– Deuses?

Ergo meus ombros no que espero ser uma imitação do gesto bonzão demais.

– Não me dê a tarefa de criar um ser humano a menos que queira que eu me sinta Deus. (p. 103)

"Criatividade é permitir a si mesmo cometer erros. A arte é saber quais ocultar". (p. 127)

Não sou religiosa, mas estou começando a simpatizar com Deus. Dê ao homem um cérebro inteligente o suficiente para dar nome aos animais, um cérebro útil e produtivo, e você começa a entender a história toda do fruto proibido.

Não é tão fácil quanto parece. (p. 131)

Por que eu amo a Aisling? Porque, com seu mundo ruindo, ela pensa em mim. Ela ainda se importa comigo. (p. 221)

– Liberdade – ele diz, e dá à palavra uma urgência surpreendente.
– Responsabilidade – digo.
– Elas andam juntas?
– Eu soube que sim – admito. (p. 242)

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