Resenha 147 | Operação Harém

Título: Operação Harém – O mundo secreto da prostituição de luxo
Autor: Tony Chastinet
Editora: Companhia Editora Nacional | 2015 | 344 páginas

Sinopse: Depois de ter o sonho de fazer dinheiro no exterior destruído, Ariane volta ao Brasil disposta a denunciar uma grande rede de prostituição de luxo e tráfico internacional de mulheres. É assim que começa Operação Harém, livro-reportagem do jornalista Tony Chastinet, que, instigado pelo anonimato da operação à época, foi buscar informações para encaixar as peças dessa brilhante investigação conduzida pela Polícia Federal e por agências de segurança internacionais. O leitor terá à mão os detalhes do esquema milionário e saberá um pouco mais da vida das mulheres que fazem o famoso book rosa. Mergulhará na grande rede da prostituição de luxo, onde não há limites para o poder e a ganância.

Resenha

por Bianca

Ano de 2009. A polícia federal investiga esquema internacional de prostituição de luxo. Uma quadrilha estava envolvida neste esquema, que foi denominado de Operação Harém pela PF. Os investigados aliciavam e exploravam modelos, atrizes, dançarinas de programas de TV e ex-integrantes de reality shows para prostituição. Os valores variavam de quatro a vinte mil reais por programa. O cenário? Hotéis luxuosos dentro ou fora do Brasil. Os clientes? Políticos, empresários, jogadores de futebol.

Onze pessoas chegaram a ser presas. De acordo com informações da Folha de São Paulo, em 2014 já respondiam em liberdade. A justiça brasileira entende que prostituição não é crime, e que as mulheres aliciadas pela quadrilha envolveram-se por vontade própria. Os nomes dos envolvidos, clientes e prostitutas são mantidos a sete chaves pela PF.

Infelizmente, tudo isso que relatei não é ficção. É um fato verídico e, se você nunca ouviu falar a respeito, explico o motivo: a mídia não fez muito alarde sobre a operação. Alguns jornalistas declararam que muitos políticos tentaram (e pelo jeito conseguiram) “abafar” o caso na mídia. Procurem agora mesmo sobre a operação no Google. Vou esperar.

Não encontraram muita coisa, certo? E o pouco material que existe sobre o assunto ainda contém muitos “buracos” que não conseguimos compreender.

Tony Chastinet, jornalista, traz no livro Operação Harém justamente detalhes sobre essa investigação. Ele nos apresenta um mundo real, onde as mulheres que se sujeitam a venderem seus corpos não são de classe baixa que veem essa saída como única para conseguirem algum dinheiro. Não. Essas mulheres são de classe média alta: modelos, atrizes, estudantes do exterior... O que têm em comum? Ambição e beleza.

O sexo funcionava como uma consequência. Além do pagamento altíssimo, como dito no início da resenha, ainda ganhavam joias e o poder para frequentar locais luxuosos.

O esquema é muito maior do que minha cabeça de mulher criada no interior poderia imaginar. A quadrilha agia dentro e fora do Brasil, e tinham até mesmo sites para facilitar a escolha dos clientes. Tudo muito profissional e sigiloso.

Lembram-se de Verdades Secretas? Quem não conhece, foi uma minissérie da TV Globo que apresentou a muitos brasileiros o chamado book rosa. A modelo era contratada para participar de um evento ganhando determinado valor por noite. Mas, se ela topasse participar de algo mais íntimo, poderia trabalhar menos e ganhar quatro vezes mais. Em Operação Harém, Tony ainda esclarece a real existência de agências de modelos que trabalham com o book rosa. E demonstra uma realidade não muito rosa.

Eu tinha uma opinião muito sensacionalista a respeito da prostituição de luxo. Defendia a ideia de que a mulher que se submetia a faturar dinheiro em troca do seu corpo estava nesta vida porque queria. Bem feito para ela caso se desse mal. Quem mandou ir para outro país? Porém, Tony me mostrou o outro lado da moeda e me fez mudar de opinião.

Realmente, as mulheres entravam nesse esquema por livre e espontânea vontade, algumas chegavam a se oferecer para participar; porém, quando o assunto era sair dessa vida, as coisas se complicavam muito. A vontade da mulher não prevalecia quando o desejo era de abandonar o esquema.

Uma rede de prostituição tão bem gesticulada, a meu ver, deveria ter uma atenção de primeira com suas profissionais. E não era bem assim. Casos de estupros, assédios, exploração para obtenção de lucro...  Nem preciso frisar o quão criminoso é.

A prostituição de luxo ainda é vista como um caminho prazeroso e fácil para a riqueza. E Tony demonstra a outra face desse caminho. Homens asquerosos, sujeição a doenças sexualmente transmissíveis e AIDS, são apenas alguns exemplos.

Ele ainda faz questão de ressaltar o quão difícil é o trabalho da polícia em dar fim a esses esquemas e até mesmo investigá-los, já que as denúncias só ocorrem quando alguém sai prejudicado e as vítimas têm medo de se revelarem e apontarem os culpados.

É uma leitura muito interessante, que só me frustrou na narrativa. Eu esperava algo mais formal; um documentário muito bem elaborado. Fiquei preparada, com o dicionário virtual em mãos para me aprofundar em termos específicos, fatos verídicos e etc., mas foi tudo muito simples. A narrativa foi romantizada e isso me causou incômodo e frustração. Gosto muito de documentários, e era isso o que esperava do livro.

Mesmo assim, não deixo de recomendar para aqueles que, assim como eu, são instigados pelo mundo obscuro da prostituição de luxo.

Avaliação:

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Sobre o autor:

Tony Chastinet é jornalista e paulistano. Experiente, passou pelos jornais Diário de São Paulo, Diário Popular e por emissoras como SBT e Record. Atua há mais de 10 anos como produtor investigativo, apurando matérias de grande repercussão. Atualmente trabalha na Rede Bandeirantes de Televisão e tem no currículo os prêmios Esso, Embratel e Vladimir Herzog, os mais prestigiados do jornalismo brasileiro. É também um dos autores de O Lado Sujo do Futebol.

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