Irmandade das 13 – Entrevista com o autor M.R. Terci sobre o gênero Terror

em 30.10.15
Na
Irmandade das 13, cada blog teve a iniciativa de entrevistar autores nacionais do gênero terror. É claro que não poderíamos desconsiderar o talento do nosso parceiro, Marcos R. Terci, que vem encantando muitos leitores com sua narrativa cheia de suspense, mistério e horror.

Por isso, nós o convidamos para compartilhar conosco as suas opiniões sobre o gênero!
'Bora conferir!



1) Quando falamos em terror ou horror, na literatura, no cinema, e até mesmo na arte e na música; acredito que a primeira emoção que o autor deseja passar para o seu público é o medo. Analisando as obras clássicas, que podemos apontar como primordiais do gênero, vemos que a forma de aguçar tal emoção mudou muito. Posso apontar como exemplo o filme “A Noite dos Mortos Vivos”, 1968, que usou de criaturas que comiam carne humana; com “Atividade Paranormal”, 2007, que buscou mostrar fatores sobrenaturais ao estilo reality show para apavorar o público. A que você atribui essa mudança de se fazer sentir medo?

M.R. Terci: Boa noite, Bianca. E que noite particularmente tempestuosa! Nada menos digno para nós que algumas deferências ao gênero, não é?! A luz fremente sobre minha escrivaninha oscila de maneira temerosa. À tarde, umas nuvens cor de chumbo se ajuntaram por estas bandas remotas e desertas. Ventos, advindos do norte distante alardeiam avisos na janelas da cabana. Por ora, como companhia, ainda tenho a doce internet, a consensual adega e alguma lamentável inspiração. Vamos aos nossos assuntos.

Preliminarmente, congratulo-me com a oportunidade que me é dada de participar desta entrevista. Privilégio e motivo de grande realização pessoal ser acolhido por mentes tão jovens e perspicazes, mormente quando se trata de ser asilado neste seio tão íntimo: a leitura. Digo sempre que o leitor empresta o livro do escritor. Contudo, quando o leitor abraça sua obra, desejoso de saber mais do enredo, dos personagens, do próprio autor e de si mesmo, o leitor toma a palavra e renasce naquele mundo novo. E cada um de nós faz isso à sua própria maneira, eis que cada indivíduo nasce do próprio parto; os caminhos que se seguiram foram distintos e únicos; as opiniões foram as mais variadas. Mas cá estamos em um mesmo lugar ansiando por mais dessas palavras. Minha cara leitora, meu prezado leitor, assenta-te diante de teu ecrã mais íntimo e aceita as minhas palavras, com a garantia de que serão sinceras.

De fato, em termos cinematográficos, quando revemos os grandes clássicos do gênero, comparando-os com as produções atuais, não podemos deixar de notar uma grande diferença. Se boa ou acaso má, até aqui não posso julgar. Não se pode presumir que uma mudança foi positiva ou negativa até que aquele momento chegue ao seu termo. Há sim uma ânsia constante da indústria cinematográfica e também da literária em repetir fórmulas de sucesso. Recentemente assisti à Thanatomorphose, primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Éric Falardeau. O filme gira em torno de uma garota que literalmente se decompõe, lentamente, após ter mantido relações sexuais com seu parceiro. No decorrer da trama, a protagonista mata e pratica canibalismo até a completa transformação para morta-viva. Na mesma semana, assisti à Contracted, do diretor e roteirista Eric England, e adivinhe só? O filme conta a estória de uma garota que literalmente se decompõe, lentamente, após ter mantido relações sexuais com seu parceiro, daí para adiante, matou, canibalizou, virou morta-viva. Ambos os filmes são excelentes, maquiagem e efeitos repugnantes que exigem do espectador um estômago de aço. A diferença? O roteiro de um foi o original, o outro é uma cópia, tanto que, para virar remake, só faltou a personagem principal ter o mesmo nome. Isso eu acho inaceitável. Infelizmente o mesmo acontece na literatura. Quando um gênero baseado em uma premissa original dá certo, ou seja, vende, as editoras publicam uma enxurrada de obras idênticas.

Mas, voltando à sua pergunta, de fato, o cinema atual faz uso de técnicas diferentes para gerar a emoção humana chamada MEDO, as chamadas estratégias do found footage e mockumentary. Esses métodos de filmagem procuram aproximar o espectador do protagonista. Talvez um dos fatores que motive essa "evolução" seja a tecnologia em constante transformação e cada vez mais acessível ao telespectador. Antes só se realizava um filme – mesmo os mais simples – com câmeras sofisticadas, de alta performance, e com horas de tomadas de que demandavam rolos quilométricos de filme para mais tarde serem editados em cenas de apenas alguns minutos, muitas vezes segundos. Hoje se faz o mesmo filme com um celular e qualquer programa de edição on line. Olhando por esse prisma, há quem diga que este estilo está desgastado, pois, todos os anos, se lançam filmes às dezenas com qualidade duvidosa. Pior, há críticas que argumentam que esse estilo é uma desculpa para a falta de orçamento ou de boas ideias.

Como disse, não vou detratar ou defender o estilo abordado antes do fim de sua era. Teremos de somar prós e contras ao final dessa maratona de filmes. Entre todos os filmes que abordam esta técnica de filmagem estão a franquia Sobrenatural, O Último Exorcismo, Cloverfield, Poder sem Limites, Skinwalker Ranch, Willow Creek, O Caçador de Trolls, Afflicted, Monstros, Wer, etc., alguns se destacam e revelam-se excelentes produções cinematográficas com bons roteiros.

Entretanto, em retrospecto, eu acho que todas bebem diretamente na fonte narrativa do sucesso A Bruxa de Blair (1999). Por outro lado, poderíamos ir aquém. O found footage é uma técnica de filmagem surgida no ano de 1980. De maneira que poder-se-ia imaginar que um foi o original. Os demais...

Bom, ao final, eu vou tentar exorcizar esse gosto amargo que ficou na boca. A tempestade lá fora se intensificou dramaticamnete.


2) Sobre o cinema, muitos fãs do gênero e até mesmo críticos apontam que as produções de hoje são repletas de clichês enjoativos e ainda têm mais caráter apelativo para a repulsa do que para o medo. Você concorda com esse ponto? Existe algum filme contemporâneo que, em sua opinião, não se enquadre nesse caso?

M.R. Terci: Pessoal, spoiler alert!
Eu assisti à A Colina Escarlate esta semana.

Os clichês estão todos lá; a casa mal-assombrada, a protagonista ingênua que se deixa seduzir pelo bonitão charmoso, o plano maquiavélico para assassinar e roubar sua fortuna, os fantasmas horripilantes, o herói cujo amor não foi correspondido surgindo ao final para salvar a mocinha. Há, ainda, os efeitos especiais, mais repulsivos do que assustadores, além de uma relação incestuosa que provoca a ojeriza do espectador. Ainda assim, eu gostei muito do roteiro e das atuações dos atores.

Os clichês quando bem empregados não subtraem o mérito de uma obra, pelo contrário, a valorizam. Em uma produção de época como A Colina Escarlate, mormente quando se permeiam caminhos de corredores escuros e vielas nevoentas na Era Vitoriana, é impossível não fazer uso de um ou mais clichês. A maneira como Del Toro faz isso é que salva tudo.

Bem verdade que existem obras repletas de clichês que, ao contrário de amedrontar o telespectador, se tornam risíveis e, até certo ponto, intragáveis. Mas é aí que entra todo o talento do roteirista. Fazendo uso de toda sua originalidade para dar a forma, dispor e acomodar o enredo – verdadeira tessitura de sonhos –, ele pega as partes de algo relativamente frágil para confeccionar o melhor roteiro. É como se um profissional da alta costura empregasse um tecido barato na feitura de um vestido. Quando a Angelina Jolie faz uma aparição pública usando aquele vestido, ninguém diz que é feio.

Quer algo mais clichê que a nerd que vive sendo humilhada na escola, ruim em esportes, solitária e esquisita que, ao final, tem a chance de se vingar de todos? Carrie é o romance de horror que consagrou seu criador, o norte-americano Stephen King, e é um sucesso de vendas até a data de hoje, com dezenas de remakes cinematográficos, uns melhores, outros nem tanto, que preservam um único aspecto original do livro: o clichê.

É impossível eliminar todos os clichês quando se conta uma estória, seja na tela do cinema ou na página de um livro. Alguma coisa sempre vai estar lá impregnando o protagonista, o antagonista, o ambiente ou o desfecho.

O erro, contudo, repousa no excesso. A obra saturada de clichês é intragável. O talento do verdadeiro escritor está em mascarar esses clichês.

Não há filme sem clichê.

Se quer assistir a um filme com um único clichê, fica a dica: The Thing (O Enigma de Outro Mundo) de 1982, ficção científica e horror, dirigido por John Carpenter. Mas desafio qualquer um a encontrar esse clichê na trama. Carpenter estava em estado de Graça quando filmou essa obra de arte.


3) Na literatura, de modo geral, nos deparamos com muitos clichês. Como autor, acha que é difícil fugir dos clichês ao criar uma história de terror ou horror?

M.R. Terci: Como mencionei, não é difícil. É impossível!

"Algo" sempre vai estar lá. No gênero horror, admito, é fácil mascarar a existência de um clichê com um bom enredo. A mocinha caminha, tarde da noite, por uma rua deserta – mas a descrição do luar é tão bela que, mesmo sabendo o que ia acontecer, todos se surpreendem com seu grito –; o assassino caminha em direção à sua vítima naquele beco sem saída – opa, espere aí! A vítima não é o que parece!

Algumas obras atuais no gênero fantasia, contudo, fazem do clichê uma regra: esse "algo" tem de estar lá – senão não vende. É o exemplo típico das franquias adolescentes Maze Runner, Divergente e Jogos Vorazes. São tão parecidos que se o leitor trocar os nomes dos personagens principais não fará a menor diferença, pois a estória é a mesma. O clichê das incertezas e descobertas da adolescência, enquanto o sujeito busca seu lugar na sociedade ao aproximar-se das responsabilidades da vida adulta, mantendo, contudo, a ingenuidade diante do novo e se confrontando com as regras. Ora, mas essa é a definição tradicional do comportamento juvenil no caminho para a maturidade, exacerbada pelo fato de que, ao menos nesta ocasião, nossa heroína vai salvar a todos e ainda chegar cedo para a Prova do ENEM.

E, da maneira como caminha a indústria literária, francamente, eu acho que vamos ver isso se repetir durante muito tempo. Há milhares de leitores no árduo caminho de sempre dessa mal-afamada maturidade e do sonho de protagonizar grandes mudanças no mundo, quiçá, salvar toda a humanidade.

As editoras não lhes fazem ouvidos moucos.

Se entender com tais perspectivas, hoje, é regra amplamente difundida por essas editoras. Há um mote entre elas. Se o clichê da caminhada rumo à maturidade não estiver lá, não publicamos porque o leitor é jovem e caminha para a maturidade.

Mas me perdoem se assuntei um tom negativo. Não é minha intenção ofender ninguém, tampouco os fãs das séries supracitadas. Pelo contrário, reconheço o talento de seus idealizadores e tiro meu chapéu para as obras. Mas, hoje em dia, só se publica isso. Legam ao esquecimento tantas obras maravilhosas de grandes escritores, por conta de ser o momento oportuno para a escrita adolescente. Se esquecem de que esse jovem, um dia, não será mais jovem e irá procurar literatura adulta.

Um detalhe mui significativo: não vi ninguém amadurecendo lendo essas séries. Nesses livros se ensina muita coisa, menos prioridade.

Já fui jovem, já passei por tudo isso. Hoje, com minha idade, acredito que tudo não passa de escolhas. Umas são fáceis, outras difíceis.

Quando era moleque, eu jogava Pitfall no Atari. O caminho certo, aquele que não leva nosso herói à morte, é sempre o mais difícil.

Acampar na calçada, passar frio, fome, sede e levar cuspida do mega astro pop, três dias antes da abertura dos portões para o show do Justin Bieber, é fácil. Difícil é chegar cinco minutos antes do fechamento dos portões do Exame Nacional do Ensino Médio. Essa geração precisa, urgentemente, eleger prioridades para que as editoras, que se encantam tanto com suas vozes juvenis, possam atender a todas as idades.

E lá se vai a finada internet! Os pinheiros parecem que vão ser arrancados pelos ventos.

 Nesses livros se ensina muita coisa, menos prioridade.


4) Antes de ser blogueira, não conhecia autores contemporâneos nacionais do gênero. E isso ocorre com muitos outros leitores, é raro nos depararmos com algum livro de terror nacional em evidência nas prateleiras de livrarias famosas. Levando em consideração que temos sim obras incríveis que merecem reconhecimento, o que, em sua opinião, colabora para o fato de não termos tanta divulgação e destaque para os autores do gênero?

M.R. Terci: São tantos os fatores. O principal, no entanto, é o perfil do leitor que não gosta de autores nacionais. Não me levem a mal. Todos nós fomos estigmatizados como sul-americanos e, com o perdão da palavra, somos paga-paus dos norte-americanos. Tudo o que se produz nos EUA é melhor. Tudo o que os EUA faz é melhor. Os norte-americanos são melhores que nós. Coca-cola, Nike, Apple, Microsoft, Mickey Mouse e o caramba! Conversa!

Eu mesmo era daqueles que entravam dentro de uma livraria e torciam o nariz para o autor nacional. Com o tempo, esses autores foram sumindo das estantes. Mais tarde, senti-me órfão deles. Hoje sou tão vítima quanto eles. Podem chamar de justiça kármica se quiserem. Aconteceu!

A verdade é que pagamos caro pelos produtos importados e os exibimos com muito orgulho. Escondemos tudo o que é nacional no fundo da estante ou na gaveta da cozinha. Isso é cultura de colônia. A diferença é que começamos a ser colonizados pelos portugueses e terminamos nas mãos do Tio Sam. E nem pense em culpar governantes. Democracia, Estado de Direito e livre-arbítrio. Nomes bonitos para os grilhões abotoados aos teus pulsos. Dançou! Foi você quem escolheu o tempo todo!

Mas a coisa não fica nisso. Ora, é só verificar as minhas próprias respostas. Facilmente, você nota que até agora não citei a uma só obra de horror brasileira. O problema é que tirando o cineasta e ator José Mojica Marins, nunca vi um filho da mãe que chegasse com uma proposta original, livre de quaisquer resquícios estrangeiros.

O Zé do Caixão é um marco para nossa época. Aquele velho diretor, cheio de ideias pervertidas e rocambolescas de como se devia conduzir a verdadeira estória de terror, inovou até a ponta das unhas. E, diga-se de passagem, que unhas! Mas aí aconteceu o inconcebível. O velho Zé foi reconhecido como uma autoridade das mais competentes no gênero horror. Adivinham onde? Isso mesmo, EUA. Aí, como aqueles putos – putz, baixou o Capitão Carabenieri em mim! HA! HA! –, aqueles putos de um cadela leprosa, não podiam tolerar que estavam pagando pau para um brasileiro. Transformaram o nosso Zé do Caixão em Coffin Joe. Safados! Pelo Jesus que vive em cada tiro, pelo menos assumam que uma vez na vida exibiram a obra de uma brasileiro não como algo exótico, impregnado de tropicalismo, bananas, samba e futebol, mas como uma obra digna de todos o méritos literários.

Não que eles não o façam com Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Esses putos admitem que tais escritores eram gênios. Mas só admitiram na morte. HA! HA! A glória do escritor é póstuma.

Alguém aqui acha que Stephenie Myer é melhor que nossa Clarice Lispector?
Ou Tolkien seja mais fabuloso que nosso Monteiro Lobato?

Surprise, motherfucker! Nós temos nosso George R. R. Martin, ele se chama José Mojica Marins!

Somos brasileiros só nos feriados. Falta ao brasileiro admitir que tem vontade de ser brasileiro. A partir desse dia, vai aceitar o que se produz aqui no Brasil e vai ter vergonha de exibir o importado. Aí as livrarias vão se encher de obras de brasileiros. Talvez, até sobre algum espaço para o gênero do horror tupiniquim. Até lá, eu mesmo vou cumprindo minha penitência. Assumo minha culpa! Eu mereço!


5) No passado, tínhamos em grande maioria obras cuja temática era o sobrenatural. Hoje, a realidade se mistura nas páginas, com livros que trazem psicopatas e até mesmo crimes reais sendo mais comuns que o primeiro caso. Os monstros com aspectos físicos tão temidos estão sendo substituídos por pessoas comuns com mentes perturbadoras. Podemos afirmar que o desconhecido, em meio à nossa realidade tão violenta, está perdendo sua essência?

M.R. Terci: Verdade das mais tristes; os monstros que antes estavam debaixo da cama, agora dividem o beliche contigo. Não é preciso abrir um livro ou dar play no filme. É só atravessar a rua, comprar um jornal na banca, acompanhar as notícias pela internet ou, ainda, pela TV.

Quando eu escrevi o primeiro livro da trilogia Caídos, Abandonai toda a esperança, eu me dei conta de que o aspecto inumano e fantasioso de alguns seres descritos no romance era o que menos importava dentro do contexto HORROR. A descrição visceral dos procedimentos inquisitoriais e da perseguição promovida pela Igreja a todas as crenças, modos de vida e transgressões que divergissem das doutrinas católicas, era o clímax da estória e superava a todos os horrores do livro. Poder-se-ia dizer que mesmo ao confrontar deuses e demônios, monstros e necromantes, a criatura mais perversa retratada nas memórias de Emanuel ainda era o homem.

O bicho papão tem medo de sair do armário. Vai ver ele percebeu o que alguns guris e uma caixa de fósforos são capazes de fazer a um mendigo em um beco escuro.

Em tempos de HIV, todo cuidado é pouco. O vampiro tem frequentado bancos de sangue, tem gasto fortunas em suborno de funcionários da rede de saúde pública.

O lobisomem há muito virou sabão. Vítima de uma política pública de erradicação de animais abandonados pelos donos nas ruas das grandes e pequenas cidades.

Alguns mortos-vivos estão fazendo terapia em grupo em um CAPS – Centro de Apoio Psicossocial, também financiado pelo governo. Aconteceu deles encontrarem um grupo de sujeitos adeptos à necrofilia. A grande maioria assiste a sessões em pé.

Caramba! A atual sociedade perpetra mais horrores em suas chamadas obras sociais do que concebeu a imaginação de Lovecraft nos Mythos de Cthulhu. E sequer citei assaltos, sequestros, tráfico de drogas, violência contra a mulher, discriminação, racismo ou prostituição infantil. Minhas escusas. Não escrevo splatter. Há limites até mesmo para um escritor de horror.

Triste realidade quando os monstros entram para a lista dos seres em extinção. Mais triste ainda que o ser humano venha a ocupar o primeiro lugar da lista dos predadores. É como dizem: o homem é o lobo do homem.

O desconhecido não perdeu sua essência. Agora ele tem facebook, podemos saber algo sobre ele, seus gostos pessoais, os livros que leu, como foi seu fim de semana, etc. e, com alguma sorte, talvez consigamos reunir provas contra ele.

 Há limites até mesmo para um escritor de horror.


6) Ainda falando a respeito do sobrenatural, muitas criaturas que antes eram consideradas macabras hoje foram romantizadas e inclusive fazem parte dos sonhos de muitos(as) adolescentes e adultos(as). Engraçado que antes estas mesmas habitavam os pesadelos (rs). Qual sua opinião sobre essa brusca mudança ocasionada pela própria literatura?

M.R. Terci: Você deve estar se referindo à Stephenie Meyer da Saga Crepúsculo. Mas, como sabe, antes dela havia uma outra escritora, muito mais talentosa que Meyer, chamada Anne Rice. Essa moça flertou com o escuro. Não é à toa que nossa Clarice Lispector foi responsável pela primeira tradução de Miss Rice para a língua portuguesa. Antes de existir um Edward e uma Bela, houve um Lestat, um Louis, uma Claudia, Madeleine, Armand e outros mais. Criaturas da noite, belos e malditos, tão sedutores quanto cruéis. Imortais que sucumbiam, noite após noite, aos desejos mais humanos. Ao passo que tentavam se aproximar do que um dia foram, mais se afastavam da bondade divina. Quanto mais desejavam ser homens e mulheres comuns, mais monstruosos e perversos se tornavam. Talvez aí repouse a beleza da obra de Anne Rice. E talvez essa seja a resposta certa à questão anterior. O homem que é transformado em monstro, deseja ser humano e, quando consegue, ele se torna mais monstro ainda.

Mas, voltando ao cerne da questão atual, nossas gerações foram irremediavelmente seduzidas por esses seres vampirescos. Acredito que qualquer pessoa, jovem ou adulto que venha a folhear as Crônicas Vampirescas, seja seduzido pela ideia de imortalidade e beleza eterna. Ideias tão antagônicas quanto beleza e eternidade unidas no conceito do dom das trevas, transmitido pelo beijo do vampiro. Fato é que, para viver para sempre, o amaldiçoado era obrigado a matar seres humanos em todas as noites de sua existência. Apesar da trivialidade, empregar o verbo matar é mais fácil do que efetivamente fazê-lo. Pergunte a qualquer soldado. Mesmo diante das situações mais extremosas, matar nunca será fácil ou plenamente justificável pela mente humana. Exceção seja feita àquelas que não mantêm laços com o humano, mas aí é retroceder à questão anterior uma vez mais.

De forma que esses vampiros, além de belos e imortais, ainda padecem de culpa com as implicações de matar. Nesse contexto, somos convidados pela autora das Crônicas Vampirescas a nos compadecer de sua dor imortal. Pronto! Agora esses sanguessugas têm nossa simpatia. Alguém aí, enfurnado nas sombras da noite, quer provar desse A positivo?

Por outro lado, a Saga Crepúsculo de Meyer é responsável por um feito notável. Pela primeira vez na história, os seres humanos foram confrontados com a dúvida do que desejavam para sua eternidade. Uns queriam ser lobisomens, outros vampiros. Vampiros e lobisomens eram colocados em pé de igualdade. Ambos agora são sedutores. Ambos são bons e sofredores, além de lindos. Não me entendam mal, falo em nome das leitoras.

A indústria cinematográfica não ficou atrás, a franquia Underworld colocou vampiros e lobisomens, uma vez mais, em lados opostos da mesma guerra e convidavam o espectador a tomar partido. Somos sedutores, belos e, agora com upgrade, somos legais e fodões com grandes armas.

Minha opinião, contudo, é distinta dessa realidade.

Meu vampiro (strigoi) é um ser espectral, grotesco, carente de matéria e que suga não apenas o sangue, mas a essência de tudo que é vivo. Por onde passa, as flores murcham, a água fica turva e os licores mais saborosos são transubstanciados em veneno:

Uma dentre essas coisas se arrastava pelos corredores insondáveis das suas poucas horas de sono. Tinha a essência das noites sem estrelas, quando o lume morfético do raio só se fazia ver por entre rasgos hediondos nas trevosas e colossais nuvens que, como gigantes famintos, espreitavam a Vila adormecida e o Bairro da Cripta por de trás dos Montes. Concebida nas covas do pesadelo e parida entre os mortos de um tempo passado, seu toque só poderia significar a morte. Seu olhar de tão perverso fazia murchar e minguar a vida que lhe cruzasse o caminho. O hálito, atroz e cingido por dentes escuros onde se prendia a carne morta dos cemitérios, lhe dizia coisas que seu coração já sabia. E, com apavorante frequência, a coisa visitava seu leito. (Conto O Herdeiro em As Elegias – O Bairro da Cripta, tomo I; leia nossa resenha)

Meu lobisomem é um ser irracional. Seria capaz de matar seu próprio filho e devorá-lo:

Leon atravessou a cabana em um piscar de olhos e rapidamente passou a tramela sobre o batente, aproveitando, ainda, o impulso para escorar a porta com o peso do próprio corpo. Sentiu a vibração gutural que saia da garganta do animal e chegava até ele pela madeira. Os pelos de seu braço robusto se eriçaram. O comportamento do lobo não era normal. A própria cabana que rescendia à pólvora dos cartuchos de espingarda e couro curtido de animais era mais do que o suficiente para manter afastado qualquer fera. Instintivamente era isso que qualquer animal faria. Devia estar enlouquecido de fome. (Conto O Lenhador em As Elegias – O Bairro da Cripta, tomo I; leia nossa resenha)

Na minha concepção, monstros são monstros, nada de eternidade legalzinha ouvindo heavy metal no iPod, fazendo guerra entre lobo e morcego com bala de prata e essência de alho. Na minha humilde concepção, vale a máxima do louvo-a-deus: sedução = morte.

Ninguém está aqui para pintar os cinquenta tons de vermelho.


7) As lendas urbanas já foram motivos de muitas tragédias. Temos relatos de pessoas que eram enterradas vivas pelo fato de a população acreditar que poderiam ser vampiros. Vivemos num século onde tudo é estudado, dando um ponto final nas lendas urbanas. Vendo por outro lado, estamos perdendo essa parte de nossa cultura. Como você enxerga tais lendas nos dias de hoje? Acredita que, nessa geração que nada teme, novas lendas podem surgir?

M.R. Terci: Oh, sim! Surgem todos os dias.

Outro dia meu afilhado mencionava um tal de Herobrine. Perguntei de onde era essa coisa. Ele respondeu: "Mundo de Minecraft". Deixei ele sem X-Box durante uma semana, mas dei O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, para ele ler.

Algum tempo atrás, alardeavam um tal de Slender Man.

Terrível. Alto, vestia um terno escuro, braços longos, tentáculos, não tinha rosto. Aparecia sempre próximo a playgrounds ou orfanatos e raptava crianças. Isso virilizou durante um bom tempo a todas as conversas, blogs e sites que publicavam matérias relacionadas ao sobrenatural. Mais tarde descobri que era um meme da internet criado pelo usuário Eric Knudsen (aka "Victor Surge"), no fórum de discussão Something Awful, em 2009. Com os diabos! De novo os norte-americanos! Por acaso estão fazendo pouco do Saci, da Cuca, do Boitatá e da Pizadeira? Parece que ninguém liga para nossos mitos.

O ser humano tem necessidade de contemporizar seus terrores. A diferença é que, nos tempos de hoje, não organizamos turbas de linchamento para finalizar nossos terrores. E a galera dos Direitos Humanos está aí para impedir que o corcunda da igreja seja apedrejado. Ah! Drácula é só um velho dentuço que perdeu a amada. Nós perdemos o medo, deixa ele aí curtindo os galhos que Jonathan Harker colocou nele.

Elegemos a Creepypasta nosso reino.
Algum tempo atrás, a loira do banheiro era nossa rainha do horror.
Outro dia, ainda, o Chupa-cabras era o rei.

Cada época teve seu representante legítimo dos pesadelos. O rei atual é Charlie Charlie, um demônio mexicano preso em um lápis.

Ou seja, a geração "coragem" se mija quando desenha cruzes em folhas de papel.

É impressão minha ou está ficando cada vez mais ridículo? Não sei. Vou ficar aqui, quietinho, fazendo as únicas coisa dignas a fazer. Resgatar a língua portuguesa e dar vida aos pesadelos menos risíveis.


8) O que mais te fascina ao escrever o gênero terror?

M.R. Terci: Escrevo o que eu gostaria de ler. Sempre fui um leitor fiel ao gênero.

O medo, dizia Lovecraft, é a emoção mais antiga. O homem da caverna por medo do escuro, descobriu o fogo. Mais tarde, consciente da própria mortalidade, com medo do esquecimento, inventou desenhos, a escrita.

O medo sempre foi uma constante no universo do homem.
Teve medo de seus inimigos, inventou armas.

Desenvolveu as mais variadas fobias, inventou a convivência com outros homens.

A noite ainda era escura. Muito mais escura em certas comunidades. Os homens das grandes vilas de nada sabiam dos terrores noturnos do campesino. Era necessário narrar-lhes. A árvore que rangia no interior da floresta mesmo em tardes sem vento. O uivo amedrontador que partia das colinas. O trinado agourento que descia dos céus sem lua. A sombra escura e enorme que nadava suave sob as águas do mar. Era preciso escrever.

Daí surgem as lendas. Os mitos são paridos pelos medos e anseios da humanidade. E nesse momento o homem é deus, é o diabo, é tudo o que temeu no escuro da noite. Quando dá forma aos seus medos, o homem escreve terror.

 Quando dá forma aos seus medos, o homem escreve terror.


9) Nesse gênero a imaginação corre solta. Aonde busca suas inspirações?

M.R. Terci: Eu sou um caso para a ciência estudar. Outro dia, plantando um salgueiro, tive a ideia para um dos contos que estão no tomo III da série O Bairro da Cripta. O conto se chama O Fruto e fala de lobisomens. Nada a ver, não é?

Pior. Morava no nono andar de um apartamento no centro de Piracicaba. Descendo pelo elevador de serviço para levar o lixo... Pá! A ideia para finalizar o último capítulo d'Os Imperiais de Gran Abuelo.

Advogando em uma pacata cidade do interior paulista. Sala cheia de clientes. Que esperem. Acabou de me ocorrer uma puta ideia! Vai se chamar Caídos.

Cara... vai saber? Sou um sujeito complexo. Ocupo a primeira posição na lista dos predadores naturais desse mundinho feito de carbono.

Olha aí a energia elétrica dançando mais que meretriz em poste de pole dance. E chuva que São Pedro manda!


10) Se arriscaria a escrever outro gênero; sairia de sua zona de conforto?

M.R. Terci: Acredita que eu já escrevi? Uma vez, há muitos anos, uma editora de Jundiaí, a Paco Editorial, me convidou a escrever um sugestivo suspense infantil. Se chamava "Dante – o gato". Concluída a obra, tudo finalizado, com ficha catalográfica e até mesmo a contratação de um desenhista para ilustrar os livros, eu acabei amarelando e rescindi o contrato antes do lançamento. Os direitos de publicação voltaram para mim e, até hoje, Dante está repousando no fundo da gaveta. Detalhe, esse gato existiu e foi um puta amigo.

Dentro de algum tempo, penso em concluir uma obra no gênero ficção científica envolvendo a exploração de minérios em uma colônia no planeta Acheron e uma outra dentro do gênero fantasia épica, com um guerreiro da Idade do Bronze e uma certa galerinha mitológica do Antigo Egito. Escrevi ambos os roteiros há alguns anos. Foi mais um exercício de escrita para testar meus limites, mas o resultado acabou me agradando de tal forma que fica impossível não pensar em concluí-los e encaminhar a alguma editora especializada.

Atualmente, contudo, estou terrivelmente enredado na mitologia que serve de base para três séries minhas: Caídos, Os Imperiais de Gran Abuelo e O Bairro da Cripta.


11) Fale um pouco de seu trabalho para os leitores.

M.R. Terci: Puxa vida! Assim? De repente?
Não é trabalho. É paixão. Não sei viver sem fazer isso.
Não me atrevo a deixar de fazê-lo.

Tenho de honrar seu sacrifício, amigo(a). Quando você, corajoso(a) e fiel leitor(a) se atreve a descer aquelas escadas limosas que conduzem às cátedras do pesadelo e às obscuras catacumbas de meus pensamentos, pode ter certeza de que estou dividindo contigo todos os ideais pelos quais saco a espada.

Se leu um bom ou um mau conto, se isso lhe agradou ou desagradou, se ficou feliz ou triste, emocionado ou encolerizado, não importa; era o meu melhor e o meu pior para o momento, fruto ou frustração de meus mais profundos anseios para contigo. Fui egoísta e covarde! Confesso! Intencionalmente, eu desejei transmitir aquela emoção para você, porque eu o(a) queria aqui comigo. Queria que sentisse essa alegria, essa tristeza, esse júbilo, esse ódio, tudo por aquela estória, por aquele personagem que estava pulando de um pé para o outro, enquanto eu, cruel criador, dedilhava esse teclado com a ânsia de um deus.

Eu o(a) chamei até aqui. Só não queria ficar aqui, sozinho, diante da página em branco. Este é o lugar mais solitário do mundo. A margem da grande imensidão branca chamada página.

Esta é a profissão mais solitária do mundo. Ninguém merece.

A glória do escritor é póstuma. Então, não importa a glória que foi reservada ao homem morto – sem o leitor(a), o escritor não passa de um fantasma vagabundo deambulando, sozinho, pelo cemitério repleto das lajes frias de reminiscências de sua memória.

As palavras ficarão. Uma noite, talvez, você leia. Nessa hora de agouros feita, quando o relógio anuncia a hora dos mortos, você descobrirá tudo o que um dia conseguimos ser. Eu e você, cara.

Só eu e você.


12) Nos dê dicas de livros e filmes do gênero.

M.R. Terci: Talvez essa seja a tarefa mais difícil. Há algo de tão pessoal nos livros e filmes que amamos. Temos nossas razões emocionais, de foro íntimo mesmo, que nos levam a adorar este ou aquele título, mesmo em se tratando de um gênero literário com tanto sangue e vísceras expostos. À exemplo, eu posso citar a trilogia Apocalipse Z do escritor espanhol Manel Loureiro, aqui publicado pela Editora Planeta. Até hoje eu a considero a obra mais completa a respeito do tema pandemia, um verdadeiro manual a ser sumariamente seguido. O protagonista era um advogado cansado de sua profissão e que tinha como única companhia seu gato Lúculo. Por alguma razão, eu me identifiquei. Vai saber! Imortal e lindo é que eu não queria ser!

Dicas. Vou tentar corresponder à demanda.

Livros:

Nada se compara aos Mestres do Horror e Mistério, H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe, por isso recomendo as obras completas desses gênios. Não há nada de apelativo ou frívolo na ficção desses caras. Escreviam de tal forma que transmitiam a impressão de terem vivenciado suas páginas. Relativamente à Lovecraft, eu gosto da coleção da Editora Iluminuras, sua tradução é muito mais fiel aos originais. Recomendo Histórias Extraordinárias, da Editora Suzano, uma bela e original obra em capa dura para Poe.

Em parceria com o escritor Chuck Hogan, Guillermo Del Toro escreveu a trilogia The Strain. Muita atenção, não é série televisiva, são os livros publicados pela Rocco. No Brasil saiu com os títulos Noturno, A QuedaNoite Eterna.

Nenhuma estante que se preze pode ficar sem o psicopata Jean Batist Grenouille, idealizado por Patrick Süskind, em O Perfume, da Editora Record.

Anne Rice não pode ficar de fora. As Crônicas Vampirescas e o crossover da Bruxas Mayfair – The Witching Hour, Lasher e Taltos –, é umas das obras mais sensuais e terrificantes jamais escritas. Nada da sutileza de Tom Cruise e Brad Pit na adaptação de Entrevista com o Vampiro ou Stuart Townsend em A Rainha dos Condenados. Os livros de Miss Rice são de uma crueza indescritível. Para mim, Anne Rice é Clive Barker de saia. Todos pela Editora Rocco.

Também pela Rocco, Devoradores de Mortos de Michael Crichton. Para quem não conhece o autor, é apenas o escritor por trás de Jurassic Park.

Para a galera que já passou das preliminares e deseja, de todo maldito coração, emoções mais fortes e sabores mais sofisticados, sugiro Hellraiser, de Clive Barker, A Editora Darkside lançou uma edição primorosa com um acabamento digno de uma deidade infernal!

E se, após ler Clive Barker, sentir sede por um pouco mais de Lovecraft, não se aflija. Leia Necronomicon – As Peregrinações de Alhazred, de Donald Tyson.

Poderia sugerir mais alguns. Mas não quero ser responsável pela sua primeira overdose de horror. Por isso, pega leve!

Os filmes:

O remake de Madrugada dos Mortos de George Romero, lançado em 2004. Nada dos mortos que parecem sofrer de artrite ao dançar música lenta. Os mortos-vivos desse clássico são fundistas olímpicos.

Quase dentro da mesma temática, pandemia mundial de coisas que querem te devorar, 28 Dias Depois e 28 Semanas Depois, dá gosto de ver caras conhecidas como Cillian Murphy – o Espantalho de Batman: o Cavaleiro das Trevas – e Jeremy Renner – o Gavião Arqueiro dos Vingadores – dando o máximo de si como atores de verdade, em papéis bárbaros nesses roteiros maravilhosos.

Por aqui não é tão conhecido, mas fica a dica Monstros e Monstros – Dark Continent dos diretores Gareth Edwards e Tom Green. O filme tem um apelo sobrenatural muito emotivo, é belíssimo.

Falando em beleza, sou obrigado a citar Nicole Kidman em Os Outros. A estória de fantasmas mais bem escrita que tive o prazer de assistir.

Cães de Caça, filme do diretor Neil Marshall que retrata lobisomens de uma maneira muito diferente. Liam Cunningham de Game of Thrones é um dos atores.

Muito bem, agora duas horinhas assistindo O Exorcista, tão bom quanto o livro de Willian Peter Blair e... pronto!

Agora já podemos tirar aquele gostinho ruim da boca e aquela impressão de que found footage é o futuro do horror. Fica a seguinte dica: Procurem por qualquer filme da produtora britânica Amicus, entre 1962 e 1980. Se há quem diga que o atual found footage é desculpa para baixo orçamento e ideias ruins, chegou a hora de desmistificar que pouco dinheiro faz filme ruim. Vamos conhecer roteiros incríveis penejados por escritores incomparáveis e com atuações memoráveis de Peter Cushing, Christopher Lee e Herbert Lom. Produções baratas, sucesso de público e crítica, onde os artistas atuavam por amor à arte.

Bem. Espero que tenham apreciado o veneno de minhas verdades.

Prometi sinceridade. Honrei minha palavra. Alguém muito sábio disse, um dia, que preferia mil vezes o dissabor de uma verdade à ilusão de uma mentira.

Longe de mim o desejo mesquinho de depreciar a qualquer obra citada por ocasião de comparativos. Eu convivo muito mal com minhas próprias limitações, não sou sábio, muito menos imortal. Sou humano, com prazo de validade marcado na bunda. A ideia foi transmitir, a curto prazo, um apanhado geral de minhas ideias diante de perguntas tão perspicazes.

Meus cumprimentos à Bianca, cicerone nesta ocasião e minha irmã por extensão literária. Pelos Deuses! De onde desenterraram esse achado? A menina tem ouro nos dedos. Transpirei sangue e vinho para responder as perguntas.

Queria mandar essas respostas para ela ainda hoje. Mas o lamentável no meio do nada, em uma cabana na floresta, é que durante uma noite tempestuosa em que o espectro noturno cavalga relâmpagos causticantes nos céus vermelhos, nem sempre podemos contar com nossa amiga: a internet.

Mas o que é isso?

A energia elétrica vai acabar. Não vai durar. E lentamente eu tomo consciência de um som baixo e tonitruante à porta de carvalho, parecido com o miado de acuo de uma onça. Será que tenho visitas? Engraçado, não ouvi nenhum veículo chegando pela única estrada pavimentada de cascalho antigo. Vou verificar.

Parecia alguém me chamando. 


Sobre o autor
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M. R. Terci é escritor, poeta e advogado especializado em Direito Internacional com ênfase na União Europeia e Mercosul.
Nascido em Descalvado-SP, em 1973, busca honrar aos Deuses da Criação Literária enfrentando, diariamente, o desafio da página em branco, devotando sua energia ao solitário trabalho de traçar destinos através dos meandros do sobrenatural.
É o criador das séries: O Bairro da Cripta, Caídos e as Crônicas de Pólvora e Sangue dos Imperiais de Gran Abuelo.
Caramba!
Que entrevista bárbara, não?
A
dedicação do autor Marcos R. Terci foi formidável e nos garantiu provocativas reflexões.

Gostaria de agradecê-lo mais uma vez pelo carinho em aceitar se fazer presente nesse Especial de Halloween. O mundo só tem a ganhar com alguém como ele. Eu adorei sua participação e cada uma das suas respostas tão fundamentadas.


Conheçam as obras do autor:



Título: As Elegias | Série O Bairro da Cripta, Tomo I
Editora: LP-Books | 2014 | 168 páginas
Sinopse: Cá, em Tebraria, a oeste do preguiçoso Mogi, o peregrino viu, finalmente, Seu rosto esculpido em pedra escura. Era tarde e o desejo de todas as coisas vivas é se esconder daquela escuridão. Mas, é sempre treva no Bairro da Cripta.
Elegias é o primeiro tomo da pentalogia do Bairro da Cripta. Composta por 24 contos que colocam os clássicos do terror universal sob a luz dos lampiões de querosene dos sertões paulistas do século XIX.
Strigois que se alimentam de vitalidade humana, licantropos boêmios às vésperas das núpcias do diabo, aparições atormentadas a procura de algum alento, nereidas sanguinárias que espreitam rios e lagos, sombras famintas que se alimentam de sangue, alienígenas curiosos e seus assombrosos experimentos, divindades cruéis, demônios narcisistas e psicopatas medonhos que mantém estreito entendimento com aquele bairro sinistro que ladeia a assombrada Comarca de Tebraria.
Através das sendas que conduzem às Montanhas da Tristeza de Deus e as margens do rio pantanoso que deságua na Baia das Sepulturas; entre as trilhas desairosas do Jardim dos Suicidas e a grande Necrópole que ladeia a Estrada do Chão Duro está o mal afamado Bairro da Cripta.
Os Jogos Macabros já começaram!



Título: Os Epitáfios | O Bairro da Cripta, Tomo II
Editora: LP-Books | 2015 | 164 páginas
Sinopse: Epitáfios é o segundo tomo da série O Bairro da Cripta, publicada pela LP-Books. Uma ode ao ossuário composta por 15 contos que relocam os hórridos horrores da Era Vitoriana para as cercanias da provinciana Tebraria, no interior do Estado de São Paulo.Por lá, o centenário cemitério se confunde, sobremodo, com as decrépitas e mal iluminadas ruas do Bairro da Cripta, onde toda gente sabe, a morte edificou seu Majestoso Trono de levianas mortandades. Nessas paragens, a cabeça do rei da peste acoita-se do frio noturno sob a Coroa de Vermes; o escriba do diabo exige do passante incauto a vermelha rubrica no Livro do Fim dos Dias; um atemporal mal deambula, sob a sombra de modernas edificações, ao escrutínio de um antigo Diário; a voz conspurcadora, imersa na mais profunda treva de uma mansão, inunda o coração humano de dizeres de morte; espíritos frios e cruéis, de indevassáveis vontades, exigem habitar corpos outros de estouvados cidadãos; corredores que se aprofundam para o seio da terra, terrores indescritíveis e tesouros incalculáveis descansam nas catacumbas sob o velho sepulcrário.



Título: Abandonai toda esperança | Série Caídos, volume 1
Editora: Multifoco | 2015 | 388 páginas
Sinopse: Em agosto de 1591, passadas apenas algumas décadas da chegada de Cabral às Terras de Santa Cruz, nas proximidades da Baia Cabrália, um bruxo sem sombra é capturado pelos lacaios da Inquisição. Seu nome é Emanuel do Tumulo. Levado à ferros e agrilhoado às salitrosas masmorras da Abadia do Sagrado Suplício, diante da cruz e do fogo, não pode mais, o bruxo, fugir ao merecido castigo. Despidas as máscaras, abandonados os subterfúgios e arrefecido o furor do inferno, é o momento de descobrir que nada é mais cristalina do que a narrativa do condenado à morte. Tempo de descobrir que um vislumbre no cárcere do prisioneiro revela muitas vezes mais do que seus atos e todos os seus pecados. É hora de começar a rezar, pois, naquela cela, só existe morte.

A ser publicada em breve:

Capa provisória.


Título: Os Imperiais de Gran Abuelo | Crônicas de Pólvora e Pólvora, volume 1
Sinopse: Em janeiro de 1880, um grupo de soldados imperiais adentrou pelos pântanos que ladeavam a Vila de Nossa Senhora do Belém de Tebraria, antiga sesmaria de Amador Bueno da Veiga, Província de São Paulo.
Conduziam, por ermos e sendas de custosa passagem, um caixão coberto com a bandeira do Império.
A missão legada a seus sabres: dar cumprimento à derradeira ordem de seu Comandante-em-Chefe, o Legendário Marquês Manuel Luís Osório.
Estes imperiais, afamados pela eficiência em combate são os mais temíveis e sanguinários soldados do tal Vale da Sombra da Morte. Festejados por seus feitos e solenizados por suas incontáveis vitórias nas Campanhas das Cordilheiras Paraguaias, em breve, os memoráveis soldados a serviço do Império de Dom Pedro II, encontrarão terríveis e inimagináveis inimigos municiados de dentes ávidos e garras aduncas com muito mais do que podem dar conta.

Acompanhe a programação na página: Irmandade das 13.


24 comentários:

  1. adorei a entrevista Bianca, completíssima! não é o meu genero de leitura, no entanto fico feliz em ver tantos talentos. Este sangue aí para dar uma incrementada no post ficou o máximo! bjs Diana Medeiros Meu Vício em Livros

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    1. Obrigada Dí! Esse sangue é coisa da Fran hahahaha, sempre criativa.
      Beeijos, obrigada mais uma vez por ter vindo conferir.

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  2. Olá!
    Tenho que concordar com o autor. O fato de não termos tanta divulgação e destaque para autores do gênero é por conta do "perfil do leitor que não gosta de autores nacionais". Infelizmente ainda tem muita gente que vai pagar um pau do caralho para um autor americano e desprezar o autor brasileiro, que pode ser (e muitas vezes é!) infinitamente melhor que o gringo. Ficamos no aguardo de que isso mude um dia.
    A entrevista ficou ótima, muito completa. O gênero não é um dos que mais gosto, mas fiquei bem empolgada com a entrevista, ótimos argumentos do autor.
    Beijos!

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    1. Oi Jess!
      Fico feliz que tenha apreciado a entrevista. Adorei esse ponto que o autor levantou. As vezes nos deparamos com livros estrangeiros que tem tanta divulgação, você pega para ler e conclui que não é uma boa história; quando existe vários livros nacionais com ótimos enredos que não tem previsão de publicação. Uma realidade muito triste.

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  3. Olá; bem interessante a entrevista, é inegável que o Marcos R. Terci se empenhou em cada resposta, procurando mais que apenas dar uma resposta direta, mas sim construindo uma linha bem interessante de raciocínio.

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    1. Oi Mari!
      Foi uma das entrevistas mais prazerosas que fiz. É gratificante ler respostas tão bem elaboradas. Enquanto blogueira fiquei cheia de orgulho.
      Beeijos

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  4. Esse é aquele momento que você simplesmente se senta calado e escuta uma aula com um mestre de terror, não é à toa que M. R. Terci é o Poeta dos Túmulos e é maravilhosamente bom naquilo que faz, porque o cara escrever sobre o que ama e ama o que escreve. Dediquei uma boa meia hora para a leitura desta entrevista, que por sinal está fantástica uma das melhores que eu tive o prazer de ler, parabéns a todos os envolvidos. É tão boa que dá vontade de imprimir e sair por aí distribuindo no portão de escolas. Parabéns. Vou começar a reler agora :)

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    1. Rafa você descreveu meu sentimento de leitora rsrs. Já disse isso centenas de vezes, e vou repetir: estou encantada com o autor, com tamanha inteligência. Já reli incontáveis vezes.
      Obrigada!
      Beeijos

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  5. Olá, achei incrível a tua entrevista, nunca vi uma tão bem escrita e detalhada <3 adorei de verdade esse teu trabalho que deve ter demorado e está de parabéns.
    E em relação, eu não conhecia o autor :( mas amo atores de terror e está super na minha lista de livros que preciso ler e conhecer hahaah
    Beijos

    http://segredosliterarios-oficial.blogspot.com.br/

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    1. Oi Morgana!
      Muito obrigada viu :)
      Estou com os livros aqui para ler, louca para conhecer seu trabalho mais a fundo.
      Beeijos

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  6. Quando tu disse que a entrevista era grande não imaginei que fosse tão grande.
    Mas contra partida, que homem genial. As respostas dele foram convites em todas as suas perguntas. Deu para perceber que como um bom escritos ele não faz o tipo revoltado e trabalha para isso mudar, inteligente.
    Parabéns pelas perguntas excelentes e pelas respostas dele que me deixaram de queixo caído!

    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

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    1. Obrigada Helana!
      Tenha certeza que, se dependesse de mim, essa entrevista estaria beeeem maior. Passaria horas entrevistando esse autor.
      Beeijos

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  7. OI Bianca, menina estou louca pelos livros do autor, eu sou suspeita de falar pois sou viciada em terror, e o que é essa entrevista? incrível! Adorei conhecer mais do autor e conhecer as suas obras, fiquei querendo muito!

    Beijos

    http://www.oteoremadaleitura.com/

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  8. Adorei e entrevista, mais fiquei triste com os limites que ele colocou sobre si, entendo o que ele quis dizer, mais fiquei triste porque eu gosto de ler livros com coisas reais ou que infelizmente são do dias a dia. OS LIVROS DELE PARECEM, NÃO, DEVEM, SER MUITOOOO LEGAIS, ADOREI TODOS E AS CAPAS CHAMAM MUITA ATENÇÃO <2

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  9. Ah, que legal a referência do autor com o filme The Thing *--*
    é um dos meus preferidos... e realmente, é uma obra prima...
    A colina escarlate eu tô querendo ver...

    Meyer - em minha opinião - não é melhor que nada, é uma das piores. Prefiro Lispector um zilhão de vezes do que ela. Não tem nem comparação...

    Quanto a Lobato e Tolkien, consigo gostar de ambos sem inferiorizar um lado...
    mas achei interessante a perspectiva do autor sobre o tema da pergunta...


    amei ver Poe, Lovecraft e O perfume entre as indicações dele.
    Anne Rice, crichton, Barker, Tyson <3

    Os filmes que ele cita tbm são muito bons, sou uma apaixonada pela obra de Romero *-* [mesmo ele tendo falado sobre o remake da obra dele]

    bjs :)

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  10. Caramba, que entrevista enoooorme. Menina, que medo, spoiler de Colina Escarlate, eu corri sem olhar pra trás. Huahahuahua. To só esperando chegar o salário do mês p ir pro cinema assistir essa lindeza.

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  11. Gente mesmo querendo assisti a colina escarlate quando vi tive que ler a resposta dele kkkkkkkk, e concordo, mesmo com os clichês um bom roteirista muda muito e torna o filme mais tragável.

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  12. Olá Bianca, se não me engano já tinha visto em algum blog um pouco sobre o autor e seus livros e com a sua entrevista e as respostas bem legais e completas do autor consegui conhecer um pouquinho mais sobre ele *--* Concordo com ele sobre os clichês no gênero, não tem como não ter e o diferencial e a forma que o roteirista/autor emprega ele *--*

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  13. Adorei a entrevista, amo encontrar autores de terror nacional! As referencias dele são muito boas, fiquei interessada em ler seus livros, já que sou fã da maioria! hahaha Parabéns pela entrevista!

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  14. Gente, adorei a honestidade do autor em suas respostas. Tenho conhecido cada vez autores nacionais mais incríveis e Terci é um dos quais eu me senti muitíssimo interessada. Se sua personalidade é refletida em seus livros, certamente são obras incríveis. Espero poder ler algo dele algum dia.
    Amei o fato de ele encarar a literatura como o ar que respira: essencial. Estou encantada!

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  15. oi, tudo bem?
    Eu gosto bastante de entrevistas, mas ultimamente não estou conseguindo fazer nenhuma para o blog :/ Mas também gosto muito de ler entrevistas e adoro aqui, porque são sempre com autores que eu ainda não conhecia. Eu gostei muito de saber mais sobre o M.R. Terci, não costumo ler livros do gênero do dele, mas fiquei animada só por ler a entrevista, pois parece ser uma história bem bacana mesmo e bem construída. Enfim, gostei muito da entrevista, o autor foi bem atencioso e acredito que realmente deve ser difícil fugir dos clichês.

    Beijos :*
    Larissa - srtabookaholic.blogspot.com

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  16. Oie, tudo bem?!
    Nossa, realmente foi uma entrevista e tanto, cheia de coisas boas sobre o autor. Acho que gostei mais de descobrir que ele escreveu um romance infantil e amarelou hahahah Eu gostaria muito de conhecer a história do gato. Parabéns por essa SUPER entrevista, ficou demais!
    Beijos

    LuMartinho | Face

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  17. Oi!
    Bem que você disse que a entrevista é longa, mas realmente compensa muito lê-la. M. R. Terci tem uma visão genial sobre o mercado editorial e a sociedade em si.

    B-jussss!
    http://www.quemlesabeporque.com/

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  18. Oii!

    Que entrevista em!
    Não conhecia o autor, mas adorei saber que ele escreve livros do gênero terror que é um gênero que gosto bastante ^^
    Gostei muito das dicas de livros de terror que ele deu :) Já anotei todas aqui ;)

    Beijos, Amanda
    www.vicio-de-leitura.com

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