Resenha 115 | Colega de Quarto

Título: Colega de Quarto
Autor: Victor Bonini
Editora: Faro Editorial | 2015 | 280 páginas

Sinopse: Eric Schatz, carioca que se mudou para São Paulo por conta do curso universitário, começa a perceber indícios de que há mais alguém frequentando o seu apartamento.

Primeiro, um par de chinelos.

Então, uma outra escova de dentes. Um micro-ondas que é ligado sozinho durante a noite, barulhos estranhos a qualquer hora e luzes que se apagam de modo misterioso.

Até que, em determinada noite, Eric enxerga o vulto do colega de quarto entrar em seu apartamento pela porta da frente.

Desesperado, o rapaz vai atrás de um detetive particular, mas parece ser tarde demais. Em menos de 24 horas, tudo acontece de modo acelerado e depois de uma ligação desesperada, cortada abruptamente, Eric despenca da janela do seu apartamento.

Em seu livro de estreia, o autor nos apresenta uma história urbana de tirar o fôlego. Um mistério que passa por uma relação familiar complicada, suspeitas por todos os lados, e camadas e camadas de culpados. Há alguém inocente?

Resenha

Narrado em terceira pessoa, Colega de Quarto promete um enredo capaz de deixar qualquer leitor ávido pela verdade. Eu me surpreendi positivamente com a narrativa do autor, Victor Bonini, e estou feliz por conhecer mais um talento nacional que vale a pena acompanhar.

Imagine como você se sentiria se, numa madrugada, fosse procurado por um jovem incoerente, arrogante e grosseiro. Ele invade seu escritório e faz declarações aleatórias envolvendo um suposto colega de quarto que está tentando enlouquecê-lo. Você o julga perturbado e, ao ouvi-lo dizer que pode pagar pelos seus serviços, exigindo que o atenda imediatamente, age com descaso.

Foi o que aconteceu com Conrado Bardelli, um advogado que atuava também como detetive particular. Enquanto trabalhava até altas horas, seu escritório foi invadido por Eric Schatz, um jovem estudante de Direito. O rapaz estava irritado, ansioso, talvez até com medo. Falou rápido e, notando o desinteresse de Conrado, saiu apressado.

Confuso, Conrado decidiu não dar atenção. Naquela mesma madrugada, no entanto, Eric ligou para o detetive. Dessa vez, o rapaz parecia apavorado. Chorava, falava baixo. Poucas horas depois, às 5h30 da manhã, o som do corpo de Eric se chocando contra o solo é ouvido. O porteiro o encontra morto e o caso é rotulado como suicídio. 

Conrado Bardelli, no entanto, não consegue ignorar seus instintos.

Ele se culpa por não ter atendido Eric em seu arrogante pedido por socorro.

E o mínimo que pode fazer é investigar o caso do colega de quarto invisível.

Eric Schatz morava sozinho, mas há algum tempo sentia uma presença desconhecida no apartamento. Encontrava objetos que não eram seus espalhados pelo ambiente, ouvia sons e via sombras. A morte dele teria sido a decisão de uma mente perturbada ou o indício de que o colega de quarto realmente existia?

O livro divide-se em três partes: Loucura, Turvo e Lucidez. Gostei muito do modo como o autor conduziu a investigação de Conrado! A mãe de Eric, os porteiros e o síndico do prédio luxuoso onde Eric morava, os amigos e a namorada de Eric, o terapeuta de Eric… Cada personagem é uma peça de um quebra-cabeça que Conrado analisa cuidadosamente, deixando o leitor à sombra dos seus pensamentos. Somos apresentados aos fatos, mas não às conclusões do detetive. Achei esse estilo narrativo precioso, pois assim o desfecho conseguiu me surpreender, o que é muito importante nesse gênero.

Dou destaque à realidade policial retratada na obra. É claro que Conrado conta com o auxílio de um delegado – Wilson Validus – e isso lhe permite o acesso privilegiado a dados sigilosos. Achei muito interessante como o autor conseguiu apresentar sutilmente os limites e os trâmites da polícia mediante um caso como esse. Da mesma forma, dou destaque à complexidade do enredo, que tornou o caso um emaranhado de circunstâncias. Fugiu do clichê causa-efeito, o que é uma grande qualidade da obra para mim.

Houve apenas um elemento que me incomodou. Não o incluí em minha resenha, no entanto, pois é uma perspectiva pessoal e pontual. Não merece ser mencionado e tampouco desqualifica a obra. Por isso, avalio Colega de Quarto como um excelente suspense policial e o recomendo para quem aprecia o gênero. A diagramação está maravilhosa e a capa representa claramente o enredo! É uma obra que revela a qualidade da Faro Editorial.

*Agradeço à Faro Editorial pela cortesia dessa leitura.*

Avaliação:

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Sobre o autor: 

Victor Bonini é natural de São Paulo. Aos seis anos, mudou-se com a família para Vinhedo, interior do estado, onde morou até os dezoito. Foi quando ingressou na faculdade de jornalismo e voltou à capital. Formado em 2014, apresentou como trabalho de conclusão de curso um livro sobre o caso Pesseghini, em que apresentou vários aspectos do crime que chocou o país em 2013. Seu trabalho, elogiado pela banca de avaliadores, escrito em parceria Mariana Janjacomo, não foi publicado por um pré-acordo com a família das vítimas. Passou por outras grandes redações, como a TV Globo de São Paulo, GloboNews e Revista VEJA. Atualmente é repórter de vídeo da TV Gazeta.

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