Resenha 98 | Ímã de Traste

Título: Ímã de Traste
Autora [parceira]: Fê Friederick Jhones

Editora [parceira]: Tribo das Letras (Selo Métrica, 2015, 259 páginas)

Sinopse: Valerie é uma mulher que acredita no amor, o seu problema é que vive escolhendo o cara errado. Seus amigos lhe deram o apelido de Ímã de Traste, só que ela ainda não sabe. Quando seu último namorado, lhe dá um pé na bunda daqueles, Valerie vai precisar repensar suas escolhas. Uma história leve e divertida sobre uma mulher na busca pelo amor, com tropeços, biquínis e tubarões pelo caminho. Junte-se a ela nessa busca e descubra se você também é um ímã de trastes.

Resenha

Uma especial surpresa! Ímã de Traste é um romance divertido de gênero chick-lit, que me rendeu horas agradáveis de leitura. Foi preciso ler apenas as primeiras páginas para me encantar completamente.

Ambientado na cidade de Recife e narrado em primeira pessoa, nesse romance conhecemos Valerie, uma mulher que acaba de levar um fora do namorado. Não é a primeira vez que Valerie é, repentinamente, "largada" por alguém em quem confiava. O término dos seus relacionamentos sempre é tão repentino que Valerie é incapaz de entender por que sofre tantos abandonos. O que havia de errado com ela?

Não me lembrava de nenhum namorado bonzinho que não tivesse detonado meu coração. Eu nunca terminei com nenhum deles. Sempre foram eles que pularam fora. (p. 18)

A resposta: ela era um ímã de trastes. Os homens mentiram para Valerie, um após o outro, sem nunca justificarem por quê o fizeram. Algo que gostei muito sobre a personagem é que, apesar da dor, ela é uma mulher moderna. Valerie vive sua fossa, mas se levanta, se arruma e prossegue com a vida. Ela é responsável por avaliar novos talentos musicais e, embora seja um fracasso amoroso, acaba de receber uma grande chance profissional que poderá torná-la oficialmente uma produtora musical.

Valerie também conta com pessoas muito queridas, que a ajudam sempre que podem: Alice, Mônica e Ricardo. Juntos, eles formam um quarteto inseparável. A autora soube oferecer um papel de destaque a cada um deles no decorrer da história e me senti próxima de suas vidas. O mais interessante é que Ricardo (ou Rico) é um "traste assumido". Ele nunca se envolve seriamente com nenhuma mulher e, diferente dos trastes da Valerie, não as ilude sobre suas intenções. Achei de bom tom que a autora tenha conferido ao Ricardo o papel de demonstrar ao leitor "o outro lado". Assim, entendemos as consequências de um traste na vida de uma mulher desiludida, mas também entendemos um pouco essa lógica masculina. Em alguns momentos, a narrativa era realizada pelo Rico. 

Ímã de Traste me divertiu porque Valerie é uma mulher comum, que sonha encontrar alguém capaz de amá-la verdadeiramente. Ela quer, sim, um homem capaz de levá-la para jantar, elogiá-la e apoiá-la. Ela quer confiar cegamente e viver seu felizes para sempre. Ela é romântica. O problema é que a vida nem sempre cede espaço para o romantismo. Às vezes, não se pode esperar pelo príncipe encantado; é preciso ser você a cavaleira de armadura reluzente com coragem para declarar o que sente.

– Acho que estrago tudo o que toco – falei, pensando alto.
– Não, você transforma. (p. 163)

Ímã de Traste é sobre uma mulher que escolheu errado. É sobre ideais quebrados e um futuro incerto. É sobre o medo da solidão. Valerie representa a mim e a você, leitor, que um dia sentiu a dor do amor. Ao mesmo tempo, Ímã de Traste é sobre uma mulher que entendeu não ser possível escolher alguém sem, antes, escolher a si mesma. É sobre enfrentar seus próprios medos e assumir riscos, sabendo que pior do que perder um amor é nunca tê-lo sentido.

– Eu... Eu não sou corajosa.
– Será? Porque eu diria que ter o coração partido várias vezes e ainda acreditar no amor é coisa de gente forte. (p. 192)

Achei muito interessante a menção a várias músicas nacionais e ao uso das redes sociais nos relacionamentos! A autora desenvolveu um enredo bastante original e realístico nesse sentido. A obra possui algumas ilustrações da troca de mensagens via Whatsapp entre os personagens, o que enriqueceu a história.

As mocinhas dos romances da Jane Auten podiam fugir mais facilmente do pesadelo dos trastes, elas não tinham Mensageiro para estragar uma boa noite de sono. Vida fácil, aquela sem tecnologia inoportuna. (p. 124)

A autora foi maravilhosa na criação do enredo. Ela conseguiu abordar vários temas que incomodam as mulheres, mas de um jeito humorado e esperançoso. Há certa previsibilidade na obra, mas o interesse do leitor é sobre o modo como os acontecimentos se desenrolam. Diria que a única real fragilidade reside na diagramação e revisão. Há detalhes belíssimos em cada página, mas houve descuido ao não separar as frases dos personagens em parágrafos diferentes e na pontuação. Apesar disso, a leitura flui tranquilamente.

Preciso destacar um personagem fofo demais, chamado Pedro, que enfrenta o câncer. Por meio dessa criança, a autora abordou a doação de sangue e medula óssea, a realidade das crianças nos orfanatos e a importância da família.

– Os adultos adoram mentir pra gente, só que a gente sempre sabe que é mentira. (p. 194)

Ímã de Traste ingressou para as minhas leituras favoritas, porque destacou o que há de melhor na vida: a amizade, a esperança e o amor. Mais do que recomendado!

*Agradeço o carinho do Selo Métrica pela cortesia dessa leitura.*

Avaliação:

Compartilho os meus quotes favoritos:

Quantos dias um casal normal fica sem se falar?

Googlei. Uma série de blogs, sites e Yahoo respostas. Nada científico, nada que fizesse sentido. Nada que acalmasse o nó que continuava bloqueando minha garganta e deixando meu estômago vazio. (p. 10)

– ...sei lá, Vale. Você não acha que a felicidade deveria ser mais simples?

– Claro que sim, mas como?

– Só acho que isso não deveria depender de outra pessoa. Uma relação não deve ser apenas para se sentir completo, para salvar alguém ou ser salvo. (...) Relações são para compartilhar, dividir, somar. (p. 31)

– Você tem medo de tudo que eu quero te dar. (...) Me deixa cuidar de você, Valerie, eu preciso disso, eu quero muito te fazer feliz.

– Eu não sei...

– Tenho certeza por nós dois. (p. 110)

– ...eu apenas me dei conta de que ainda sinto o mesmo por você. A Bárbara não me dava metade do que você me deu.

– Então se trata de você receber mais – ataquei. (p. 121)

E numa descoberta terrível, me vejo descrente, eu não sei mais acreditar no amor, eu não sei se ele funciona, se pode dar certo ou se cura alguma coisa. (p. 185)

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