[Entrevista] C. A. Saltoris

em 14.5.14
V
amos a mais uma entrevista especial para a Ação Eu Valorizo a Literatura Nacional!

Sabe aquela pessoa que, só de trocar algumas poucas palavras, você sente orgulho de conhecer? Assim foi com a parceira C. A. Saltoris, autora de Banshee – Os Guardiões.

A cada vez que conversamos, sinto-me muito feliz por ser representada por ela na Alemanha. A mulher é top, gente! É uma artista no amplo sentido da palavra. C. A. Saltoris é brasileira, mas mora na Alemanha, onde atua como jornalista, atriz, diretora/roteirista e escritora.

Agora responda: não é motivo de orgulho!? (rs) Convido vocês a conhecê-la!


1. Como foi seu primeiro contato com a leitura?

CAS: Nossa, boa pergunta! De verdade mesmo? Eu não lembro qual foi o primeiro livro que eu li. Um dos primeiros foi, provavelmente, “Onde tem Bruxa tem Fada”, mas não tenho certeza. Do que eu me lembro bem é de como surgiu o meu amor por histórias. Conta? (Risos) Uma irmã da minha avó, “tia Nora”, foi morar com ela por estar doente. Na época, eu era pequena, mas eu me lembro bem de sentar na varanda da minha vó, depois de voltar da escola e escutar as histórias que a tia Nora contava. Ali surgiu o interesse. Disso eu sei. 


2. Na infância, qual era sua relação com os livros?

CAS: Eu sempre li. Minha mãe é professora primária e sempre me incentivou, mas ela percebeu logo que eu não precisava de muito incentivo não. Eu também era bastante cuidadosa com os meus livros. 


3. Quando você começou a escrever? 

CAS: Ninguém acredita, mas minha mãe está vivinha para não me deixar mentir: eu comecei a escrever aos sete/oito anos de idade. Tem até fotos da época... eu com meu caderno de anotações. 

Curiosidade: Acredito que registrar momentos especiais com a literatura perdure até hoje na vida da autora. Sabem por quê? A linda mulher presente na capa de Banshee é...  ela própria di-van-do! 


4. Quais são suas inspirações para escrever? Tem algum autor ou livro como referência?

CAS: As inspirações vêm do nada. Às vezes até de um sonho, outras vezes é como se uma voz sussurrasse no meu ouvido, eu vejo um filme na minha cabeça e sei como começar. É meio estranho e intuitivo comigo. Referência? ...Hmm... Não diretamente. Nunca me espelhei em ninguém, mas é claro que eu tenho os meus ídolos, e inconscientemente a gente acaba se deixando influenciar de uma maneira ou de outra, mas nunca foi minha intenção.


5. Quanto tempo levou para escrever Banshee – Os Guardiões e como foi a experiência?

CAS: Banshee levou dez anos pra nascer. Quando eu comecei, eu sabia que eu queria passar uma determinada mensagem, mas não sabia como chegar lá, que meios usar. A criação da Trilogia da Salvação dependeu muito das coisas que eu vi ao longo da minha – jovem – vida. As experiências fora do Brasil, de entrar em contato com outras culturas, foi crucial para que eu soubesse exatamente para onde ir com a história. É uma série que mexe muito comigo, emocionalmente falando, porque eu abordei temas que eu considero importantes, como a violência contra a mulher, os direitos da mulher em si, seu valor na nossa sociedade patriarcal. A falta de amor no mundo, o egoísmo, as motivações do ser humano, o fanatismo religioso. Eu aprendi muito sobre mim mesma e fui forçada a compreender coisas que eu não queria entender, ver o outro lado da moeda, para não ser injusta. É difícil se desapegar das suas próprias convicções, pra isso é preciso sair da zona de conforto... isso custou muito de mim. 

MQS: Preciso comentar! É emocionante reconhecer tamanho empenho da autora na produção da sua história. Acredito que qualquer autor que deseja produzir algo de qualidade precisa, antes, assumir a responsabilidade sobre o conteúdo que pretende abordar.  


6. Pelos comentários dos seus leitores, nota-se quão rico foi o contexto criado em Banshee – Os Guardiões (o qual já estou ansiosa para conhecer!). Qual sua opinião sobre a influência das pesquisas do autor ao desenvolver uma história?

CAS: Nesse caso, eu só posso falar por mim. O pesquisar sobre uma cultura, um hábito, um fato histórico, me traz ideias de como aprofundar a personalidade de um personagem, por exemplo, seja seu vestuário, ou sua maneira de pensar, que é influenciada pela sociedade, cultura e tempo em que vive. A mim influencia muito. Sempre.


7. Além da arte literária, você também domina as artes cênicas em sua carreira como atriz e acompanha outras expressões artísticas em sua carreira como jornalista. Você acha que ter acesso e conhecimento sobre a arte em geral influencia na qualidade da sua narrativa? 

CAS: Na qualidade da minha narrativa, eu não sei, provavelmente sim, porque eu vejo mais coisas, logo tenho mais sobre o que escrever; já na complexidade do conteúdo das minhas histórias, sem dúvidas que sim! Ser atriz, por exemplo, me ajudou muito a descrever as reações do corpo físico quanto se vive determinadas emoções, como por exemplo, o medo paralisa, faz suas mãos ficarem geladas, seu sangue parece esvair, os sentidos aguçam, você se move de maneira mais cuidadosa. E por aí vai. 


8. Entre os seus personagens, há algum que se destaque para você? Por quê?

CAS: Nossa, teve muita gente que me surpreendeu. Mas, eu nunca neguei que o meu personagem favorito da trilogia é o capitão Lugh. E não é porque ele é moreno, alto, bonito e sensual... bem, talvez tenha sim influenciado um pouquinho! (Risos) Brincadeiras à parte. O capitão é um personagem complexo, com uma grande bagagem emocional, sem contar que ele é um homem de honra, ele não tenta agradar, ele procura sempre ser justo, mesmo que precise ser rude, eu gosto disso. Ele também tem um bom coração. Acho, que de todos os tantos personagens na trilogia, ele é aquele que pode ser chamado de “boa pessoa.”

MQS: Já vi que meu coração será arrebatado pelo capitão Lugh!  


9. O que seus leitores podem esperar da sequência de Banshee? Há outros projetos literários previstos?

CAS: Perguntas que serão respondidas, outras perguntas que surgirão. Os Deuses têm muito mais peso a partir do segundo livro, nós vamos conhecer Sanerán, finalmente. (Risos) Fica mais clara a questão de que essa é uma luta entre Feminino e Masculino e não entre Bem e Mal, é uma luta pelo direito de manter o equilíbrio universal, uma luta que faz uso de argumentos psicológicos e morais, e não de espada e mangual; é uma briga religiosa pelo poder de Mãe Amor. (Quem leu vai entender) Eles não podem esperar “situações épicas”, eu nunca neguei que Banshee só é uma história de Fantasia porque eu não gosto de Ficção Científica, e porque achei que seria muito sem graça se a história se passasse em um mundo exatamente como o nosso. É tudo uma “capa” para aquilo que eu realmente quero dizer. É apenas um cenário, eu trabalho mesmo é com sentimentos e motivações. Ah, sim, e essa é uma história sobre o amor, e não um romance! É sempre importante dizer que os apaixonados não têm muita chance, nem muito valor na trilogia. (Risos)

Sim, há “A História Esquecida da Hospedaria na Estrada” (que está pronta depois de muitos anos de projeto!), uma história sobre uma fada da morte que se apaixona por um mortal. A história é contada pelo Titã Chronos, o deus do tempo. Mas acaba que o romance escorrega para segundo plano (como sempre nos meus livros! Eu sou péssima em histórias de amor! Risos.), a história fala sobre os sonhos dos seres humanos, aqueles que nós deixamos de sonhar, sobre desesperança e esperança. Também sobre o que significa ser feliz para cada um de uma maneira individual, sobre decisões e suas consequências. Sobre o tempo e a mortalidade. 


10. Você é uma autora que possui uma relação ímpar com a literatura, pois mora na Alemanha e manteve suas publicações em ambos os países. Poderia contar um pouco sobre sua experiência com o processo de publicação no exterior e no Brasil?

CAS: Publicar um livro é difícil em qualquer lugar do mundo. O processo é o mesmo: você escreve, envia para a editora, espera meses e eles te recusam. Até que você encontra uma que acredite em você, ou publica você mesmo. Eu dei sorte de conhecer as pessoas certas e de estar na profissão certa, no lugar certo, na hora certa. Todo o sucesso na vida depende, infelizmente, de um pouco de sorte. A diferença é que eu não sofro preconceito na Alemanha por ser uma autora brasileira... 


11. Quais são as dificuldades para que um autor consiga ser publicado e conhecido no mercado literário brasileiro? 

CAS: Ter um nome pronunciável. 

MQS: Eu comecei a rir desta resposta... Até lembrar que ninguém pronuncia meu sobrenome direito!!!
 

12. Como você vê a literatura brasileira atualmente? Quais são suas expectativas quanto a ela?

CAS: Vejo que anda mal. E isso não tem nada a ver com a qualidade dos livros dos colegas brasileiros. Tem a ver com a aceitação que os autores têm no Brasil enquanto brasileiros. Claro que não com todo mundo, eu conheço gente que fica revoltada com essa devoção – exclusiva – por livros estrangeiros, que muitos leitores têm. Mas é inegável que existe preconceito, sempre existiu. Eu espero que isso mude, o Brasil tem ótimos escritores que merecem ser reconhecidos! 

MQS: Gente, isso é muito sério... A C. A. Saltoris partilha conosco uma opinião de quem mora em outro país e nota que o preconceito com a literatura brasileira existe entre o nosso povo. Precisamos colaborar o quanto pudermos para a valorização do nosso próprio legado literário.  


13. Qual livro nacional você recomenda? Por quê?

CAS: Nossa, que difícil! Tem vários. Espontaneamente, eu diria “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Porque fala de uma realidade tão dura, com tanta simplicidade e poesia, sem pieguice, e que toca. 


14. Aos novos autores, poderia oferecer quais dicas?

CAS: Não copiem! Leiam, inspirem-se, mas sejam individuais. O mundo não precisa de cópias. Tente ser um “bom você” e não um “ruim ele”. 


15. Deixe um recado aos leitores, incentivando a conhecer suas publicações e a literatura brasileira!

CAS: Bem, os meus livros são para aqueles que gostam de rir e refletir, que gostam de coisas sem muito sentimentalismo, novas e às vezes absurdas ou até mesmo “moralmente incorretas”, mas que falem sobre temas atuais e importantes.
“Putz”... É quase um apelo, né? Incentivar a conhecer mais da Literatura Brasileira... É triste que isso precise de incentivo, mas é verdade. Eu convoco aqui para o fim desse preconceito, realmente, infundado. E se alguém argumentar que existem muitos livros ruins escritos por brasileiros, eu revido que os estrangeiros não são diferentes! É só olhar em volta. E, gente, o mundo não nos odeia, somos nós que nos odiamos!

O My Queen Side agradece a querida C. A. Saltoris por nos oferecer respostas tão válidas! Obrigada!

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ora fazer a nossa parte e valorizar a literatura nacional? Comece conhecendo a obra desta autora:


Sinopse: Aos vinte e seis anos, tudo o que Brianna Namara queria era encontrar a cura para a sua esquizofrenia e o paradeiro de sua família. Ao descobrir-se herdeira do trono, no distante planeta Banshee, sua vida vira de pernas para o ar. Em seu novo mundo, que, para sua surpresa ainda vive na Idade Média, a jovem será treinada para lutar à frente do Exército Real, assumir o governo do continente e reunificar seu reino, para tentar vencer os guerreiros da irmandade de magia negra Maleficus Animus. Com humor, um quê de ironia, medo de fadas e crises de abstinência, Brianna tenta, em meio a muitas aventuras, brigas com o Conselho Real e segredos mágicos, tornar-se a rainha que o seu reino precisa que seja, tendo sempre a seu lado seu cavalo alado e falante Pégasus. Com seu arrogante e charmoso capitão Lugh, e seu mais novo amigo de infância, o belo tenente Cahan, ela acaba por envolver-se em um triângulo amoroso que traz consigo discórdia e um mistério incompreensível. E na luta para salvar o Amor do Universo, Brianna sentirá na pele as dores causadas por uma guerra divina, que os Deuses deixaram nas mãos de mortais sem preocuparem-se com as consequências. 

Interessou-se pelo livro?

O que acharam da entrevista?
Comentem suas opiniões!


6 comentários:

  1. Oii Fran, aiii que tempão que não passo por aqui!!!
    Saudades imensas!!!!

    Que lindo que está seu Layout!!

    Adorei a entrevista, muito legal esse apoio ao leitor nacional.
    Fiquei super empolgada com os livros.
    Parabéns pelo post
    !!!

    Beijoos!!

    http://traduzindo-sonhos.blogspot.com.br/

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  2. Olá Francine,

    Muito, muito boa a sua entrevista, gostei demais de conhecer essa autora, 10 anos para escrever um livro não é fácil, mais por isso tem qualidade, a literatura brasileira já esteve menos reconhecida, mais acho que atualmente esta mudando....desejo sucesso a autora e ao blog.....abraços.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  3. que bacana conhecer mais da autora e da sua obra e as peculiaridades
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  4. Oiee ^^
    Estou com Banshee aqui há um tempinho, mas não consigo pegá-lo para ler *-* gostei bastante da entrevista, conhecer um pouco a autora me deu coragem para iniciar a leitura. Realmente a literatura brasileira acaba sofrendo certo preconceito pelos leitores, infelizmente isso ainda acontece *-*
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  5. Olá!!!
    Não é porque conheço a autora que afirmo, mas ela escreve muito bem mesmo, além de ser uma pessoas espetacular.
    Coincidentemente terminei a leitura de Banshee - Os Guardiões I, ontem à noite e ainda estou fascinada pela forma como a história foi escrita e desenvolvida. Super recomendo (apesar de já estar sofrendo por ter que esperar os próximos) =)
    Infelizmente desde sempre percebi que a literatura nacional nunca é aceita tal como a estrangeira, mas isso nunca me impediu de ler obras belíssimas de brasileiros (até porque um dos meus autores favoritos é brasileiro - André Vianco) e posso afirmar que temos muitos autores mais do que bons por aqui - inclusive essa linda da Saltoris...

    Ótima entrevista!!!

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  6. Oie :)
    Nooosssa não sabia que era ela na capa :O
    Ficou lindíssima *-*
    Tenho uma curiosidade enorme de ler seu livro, parece ser ótimo!!!!
    Adorei a entrevista, Fran ♥
    Bj bj
    Cupcake de letras

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