Vamos falar de… (2)

em 30.4.14
Cultura – uma palavra distorcida


Alguns fatos me chamaram a atenção essa semana. O bafafá nas redes sociais sobre o professor de filosofia que havia inserido na sua prova uma questão muito engenhosa, mas que “revoltou” muita gente. 



O resto da história todo mundo acompanhou. A cantora pronunciou que não se considerava pensadora contemporânea, mas que está trabalhando para isso. Por fim, disse que leria um livro do Machado de Assis.

Calma, Valesca, não se equivoque. 
Você é sim uma pensadora contemporânea! 

Mas peraí, o My Queen Side agora tem colunistas funkeiras?

Não. Não tem nada a ver com gosto musical. O que quero dizer é que as pessoas não sabem mais definir o que é cultura. Não entendem o real valor que cada ser humano traz à sociedade. 

Como assim?

Vejamos, há algumas semanas li um artigo do pesquisador e professor Roberto da Matta, chamado “Você tem cultura?”. E o texto tratava principalmente da definição de cultura para a antropologia e ainda trazia ideias que achei muito adequadas ao que aconteceu com a prova do professor. Vou compartilhar algumas com vocês. 

Hoje em dia, “usa-se cultura como sinônimo de sofisticação”. Roberto quis dizer que consideramos “cultos” aqueles que estudaram mais que o outro ou a capacidade do outro saber organizar e compreender informações. O que me fez refletir: ora, se for por isso, os computadores são muito mais aculturados que muitos seres humanos por aí

O que se vê muito por aí é que a cultura em si é dita como quantidade de livros lidos, ou de mestrados e doutorados que o Fulano tem. Por qual motivo uma senhora curandeira do interior do país, que ajudou muitas crianças com suas receitas de ervas e orações, não pode ser considerada culta? Sua bagagem cultural não vale nada? E por que um cantor de música funk, provindo da periferia, não pode ser considerado culto? Por acaso ele trata de fatos mentirosos e inexistentes em nossa sociedade? 

Reflitam

Outro trecho interessante foi “(…) cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas, (...) grupos sociais, servindo como uma arma discriminatória contra algum sexo, idade, etnia ou mesmo sociedades inteiras (...)”. É o que mais me deixa chateada. Usar de uma palavra que inicialmente deveria ser incluidora para segregar e pré conceituar os demais.

A questão é que existem tradições, costumes, pensamentos diversos e é necessário aprender a conviver com eles. 

Como vamos conviver em paz se mal sabemos distinguir cultura de quantidade de livros lidos? 

Portanto, Valesca, você não precisa de Machado de Assis para se sentir uma pensadora contemporânea. Aliás, nem você e nem qualquer outro cantor, artista ou sujeito. Não interessa! Os valores pessoais e a bagagem cultural de cada um é o que faz nossa sociedade ser tão diferente! Não somos robôs! Somos culturalmente diversificados! 


Recomendo o artigo do Roberto para quem se interessar, é muito agregador. O post de hoje foi para tentar abrir um pouco mais nossas mentes para percebermos tamanha injustiça que estamos cometendo quando estabelecemos limites para a nossa cultura.



31 comentários:

  1. Adooorei seu poost!!

    Ficou muito bom, concordo contigo!!
    Alias acho que isso foi uma tempestade em um copo d'agua.

    Beijinhos,

    resenhaeoutrascoisas.blogspot.com.br

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    1. E não foi mesmo, Ana?????
      Obrigada por ler, querida.
      Beijo!

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  2. Nossa.. esse povo tira cada coisa pra rebaixar o Brasil ;x

    www.chadecalmila.com

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  3. O artigo é ótimo, sim claro todos tem sua forma de expressar e de fazer algo cultural. Chegamos a questão do gosto pessoal e no meu caso, detesto funk e toda a pseudo cultura de ostentação promovida por ele. Para mim foi de mau gosto terem citado essa música na prova, mas como eu disse isso é gosto pessoal meu.

    Valeu a reflexão.

    Abraço,
    Diego de França
    Leitor Sagaz | Grupo Amantes da Literatura no Facebook

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    1. Disse bem, gosto pessoal. Eu também não gosto. Mas acho que qualquer tipo de discriminação é inválida, entende?
      E poucos entendem o real motivo que o professor fez isso. Enfim, fico grata por ter lido, abraço! :)

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  4. Concordo com você! Apesar de não gostar de funk, entendo que ele também faz parte da cultura.
    Somos um país bem diversificado e acho que existe espaço para tudo, desde que exista respeito.

    Beijos!
    http://cmykativo.com.br

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    1. Respeito, sempre, Daniele!
      Obrigada por ter lido.
      Beijos!

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  5. E olha que eu pensei que fosse "história para boi dormir..." Triste isso, mas em um país onde o funk ostentação está em todas as paradas enquanto nossos cantores (reais) nem aparecem, não dá para esperar muito mais do que isso.
    Bjs, Rose

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    1. Tá certo, é o seu ponto de vista.
      Obrigada por ler,
      abraço!

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  6. Adorei! Concordo com TUDO.

    Tenho achado ridículas as manifestações de ódio ao funk que tenho visto nas redes sociais. O funk É SIM cultura e o melhor - é a cultura do nosso país. Assim como o axé, o pagode e tudo aquilo que grande parte das pessoas abomina.
    Não defendo um falso patriotismo cultural, mas ao menos respeito. Lá fora, o funk faz um sucesso absurdo. É a voz da periferia, é a voz daquele que nunca teve voz alguma, e são "grande pensadores contemporâneos'' SIM, principalmente porque atingem a parcela da população que não tem acesso à obra de filósofos, sociólogos, historiadores, dentre outros.

    Enfim. Muito bom mesmo seu post!
    http://poesiadestilada.blogspot.com

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    1. Ana você disse tudo!
      Eu aprecio muito a música internacional, mas isso não me faz pensar igual muito idiotas pensam por aí! Eu acho o mesmo que você!
      Obrigada por ler,
      Abraço!

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  7. Bem direta a postagem. Gosto assim. Discuti muito com algumas pessoas a respeito disso. Ao mesmo tempo que a Valeska pode não nos afetar em aspectos mais profundos do ser, para outras pessoas, ela remete a realidade de suas vidas. Não sendo isso melhor nem pior. Achei a resposta da Valeska aos preconceituosos de plantão das redes sociais (que invariavelmente compartilham citações de autores que nunca leram com uma foto em preto-e-branco) muito digna. Quase um tapa com luva de pelica.

    As pessoas esquecem que a filosofia, a cultura e a arte se reinventam, se recriam e renascem das mais diferentes formas. Valeska enquanto cantora pode não ser uma pensadora, mas enquanto personalidade dá de 10 a 0 em vários que dizem um monte de abobrinhas em entrevistas.

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    1. Adorei a expressão "tapa com luva de pelica" haha.
      Concordo demais com você! A cultura se reinventa! Maravilhoso!
      Fico grata por ter lido.
      Abraço!

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  8. Concordo com tudo o que você disse! Não costumo publicar nada sobre esses temas polêmicos, como a campanha do racismo dessa semana, por isso não opinei nas redes sociais, porém com um amigo discuti exatamente sobre isso.
    O professor foi muito feliz, não apenas por usar uma figura que, por gostarem ou não, os alunos conhecem, como também por mostrar como a cultura do Brasil é rica. Não gostar do estilo musical é uma coisa bem diferente de desvalorizar o que representa e engrandece a cultura do nosso povo, principalmente aqueles que não têm voz, como foi citado em um comentário acima.
    Talvez não seja uma boa comparação, mas criticar isso é o mesmo que criticar a grande massa por assistir esse ou aquele canal, acreditar nesse ou naquele político e ler esse ou aquele livro. Enquanto a grande massa for descriminada e não tiver oportunidade, essa e outras pessoas serão, felizmente, grandes pensadores. Pelo menos eles fazem o que "a elite cultural" não está preocupada em fazer.

    Beijos,
    Ricardo - www.overshockblog.com.br

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    1. Concordo plenamente com você. Acho também que todo essa deturpação do que é cultura é ligada ao preconceito. Aliás, palavra patética para o século que estamos vivendo.
      Agradeço a leitura do meu post,
      Abraço!

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. (repostando porque comi algumas letras u-u)

    Adorei o texto, Ari! Perfeito! Hoje em dia existe certa disputa pela quantidade de livros que alguém leu, ataques verbais - e se duvidar, até físicos - para desmoralizar fãs de outros gêneros musicais. Funk não faz meu estilo, mas quem aqui nunca admirou a história de vida de Claudinho e Bochecha que fizeram do ritmo uma profissão e assim ajudaram não apenas a própria família, mas a comunidade em que viviam? Ou aquelas pessoas que defendem que "leitor de verdade não lê e-book" que "só o papel tem a ~magia~" acabando assim com a oportunidade de tantos bons autores de se destacarem :/ Uns atacam, outros ao dizerem estar se defendendo atacam de forma pior e assim a bola de neve vai aumentando. E não estamos livres disso pois, inconscientemente, acabamos atacando o gosto de alguém ao querer defender nosso ponto de vista e tentar mostrar que, hei, isso aqui também é legal. Tem sido cada vez mais complicado a interação social...
    Bom, como deu pra ver, me animei kk, reflexo de um bom texto ;3 Parabéns por mais um maravilhoso trabalho <3

    Beijão

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    1. Olá, companheira de blog! Achei bem muito bem exposto! As pessoas moram no Brasil mas não conhecem a verdadeira face do próprio país!
      E-book? Hum... Um bom tema para postagem, não acha?
      Obrigada por ler querida
      Beijos.

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  12. (Repostando porque comi letras u-u)

    Adorei o texto, Ari! Perfeito! Hoje em dia existe certa disputa pela quantidade de livros que alguém leu, ataques verbais - e se duvidar, até físicos - para desmoralizar fãs de outros gêneros musicais. Funk não faz meu estilo, mas quem aqui nunca admirou a história de vida de Claudinho e Bochecha que fizeram do ritmo uma profissão e assim ajudaram não apenas a própria família, mas a comunidade em que viviam? Ou aquelas pessoas que defendem que "leitor de verdade não lê e-book" que "só o papel tem a ~magia~" acabando assim com a oportunidade de tantos bons autores de se destacarem :/ Uns atacam, outros ao dizerem estar se defendendo atacam de forma pior e assim a bola de neve vai aumentando. E não estamos livres disso pois, inconscientemente, acabamos atacando o gosto de alguém ao querer defender nosso ponto de vista e tentar mostrar que, hei, isso aqui também é legal. Tem sido cada vez mais complicado a interação social...
    Bom, como deu pra ver, me animei kk, reflexo de um bom texto ;3 Parabéns por mais um maravilhoso trabalho <3

    Beijão

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  13. (Repostando porque comi algumas palavras u-u)


    Adorei o texto, Ari! Perfeito! Hoje em dia existe certa disputa pela quantidade de livros que alguém leu, ataques verbais - e se duvidar, até físicos - para desmoralizar fãs de outros gêneros musicais. Funk não faz meu estilo, mas quem aqui nunca admirou a história de vida de Claudinho e Bochecha que fizeram do ritmo uma profissão e assim ajudaram não apenas a própria família, mas a comunidade em que viviam? Ou aquelas pessoas que defendem que "leitor de verdade não lê e-book" que "só o papel tem a ~magia~" acabando assim com a oportunidade de tantos bons autores de se destacarem :/ Uns atacam, outros ao dizerem estar se defendendo atacam de forma pior e assim a bola de neve vai aumentando. E não estamos livres disso pois, inconscientemente, acabamos atacando o gosto de alguém ao querer defender nosso ponto de vista e tentar mostrar que, hei, isso aqui também é legal. Tem sido cada vez mais complicado a interação social...
    Bom, como deu pra ver, me animei kk, reflexo de um bom texto ;3 Parabéns por mais um maravilhoso trabalho <3

    Beijão

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  14. Muito bem colocado. Adorei sua postagem. Sou sua fã, moça!

    Bjks.

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    1. Owwn Natália, obrigada por isso! Me deixa mui contente!
      Beijos!

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  15. Oi Ariadny, na minha infância lembro que ouvia muito Claudinho e Bochecha, Mc Bob Rum com seu inesquecível Rap do Silva. Acredito que esses sim, eram funkeiros de qualidade e que usaram a música para serem ouvidos. Diferente do que se vê hoje em dia, afinal que tipo de cultura mostra "Quadradinho de 8", "Late que eu tô passando" e tantas outras músicas que estão na moda? Posso dizer que a pessoa em si sim traz uma bagagem cultural muito grande, até porque é impossível que exista alguém que não traga nada de aproveitável de suas vivências de vida. Mas agora dizer que por causa de suas músicas ela se torne uma pensadora, me desculpe, mas as suas músicas refletem uma cultura machista onde a mulher é apenas um objeto, não possuindo um "cérebro pensante" e que suas maiores qualidades são um corpo bonito. Óbvio que isso não encontrado só no funk, infelizmente essa ideia de criar "músicas" onde não se encontra nada de aproveitável se disseminou de uma forma que é difícil o cantor, ou pseudocantor, que não se renda a esse estilo. Deixando assim um péssima impressão das brasileiras, pois no exterior onde essas músicas fazem tanto sucesso, as pessoas enxergam a mulher brasileira como uma mulher fácil e que não tem senso de moral alguma. Se é essa a impressão que o povo quer mostrar e acha que isso é cultura, então sim poderemos considerar a Valesca como uma pensadora contemporânea.

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    1. Acho válido tudo o que você disse. É a sua opinião e a respeito.
      Fico grata por ter lido.
      Abraço!

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  16. Oiee.

    Seu texto está ótimo e serviu para me fazer ver algumas coisas além, pois quando fiquei sabendo desta história da cantora fiquei pensando que era uma bobagem.
    Bom, mas seu texto me esclareceu muitas coisas.

    Obrigada!!

    Beijos Fê :*
    http://fernandabizerra.blogspot.com.br/

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  17. Sábias palavras do seu post. Acompanhei a história quando a polêmica começou e achei que foi muita tempestade em copo d'água todo aquele bafafá. Mas o professor responsável pela prova - que, aliás, é de uma escola daqui - foi muito feliz em seu intento, segundo ele o de chamar atenção, e acabou levando nossos olhos para questões muito mais profundas, que é a nossa cultura.

    Como você disse, cultura não se mede pelos livros lidos. Não se designa por meus óculos de armação da moda, cds do Chico Buarque ou a cara blasé que faço enquanto circulo numa livraria. É aquilo que nos caracteriza como povo, é nossa bagagem. E o funk, querendo ou não, choremos o quanto for, faz parte da nossa cultura. Como vi num comentário anterior, é a voz daqueles que não têm voz, e eu acrescento: é catarse, é libertação!

    Entretanto, qual foi o problema na prova? Foi terem colocado um funk, ou ter chamado a Valesca de pensadora contemporânea? E o que é uma construção de pensamento? Na entrevista com o professor Antônio Kubitschek, ele disse algo muito interessante. Se a Valesca produz um conceito e esse conceito gera polêmica, ela pode sim ser considerada uma pensadora - afinal, estamos aqui nos mobilizando, escrevendo posts e comentários, não? Mas não vou me aprofundar muito nisso. Só digo que minha pilha de Saramagos ali por ler não me faz melhor do que ninguém.

    Post maravilho. Um grande abraço.

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    1. Só vou te dizer isto:
      Bravo! Bravíssimo! Quem dera o mundo tivesse pessoas que pensassem como você!
      Obrigada por ler, querida.
      Beijos!

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  18. Este comentário foi removido pelo autor.

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